Billie Eilish e Beadodobee lideram onda do bedroom pop, pop feito em casa
Trata-se da música intimista criada por jovens artistas em seus quartos
Há cinco anos, Beatrice Kristi Laus era das poucas adolescentes asiáticas em uma escola católica só para meninas em Londres. Nascida nas Filipinas, ela se ressentia da xenofobia. Mas fez da música um escudo contra o preconceito: trancada em seu quarto só com guitarra, baixo e microfone, compôs e gravou uma faixa despretensiosa valendo-se de aplicativos baratos instalados no computador. Sob a alcunha de Beabadoobee, a ex-oprimida alcançou o sucesso no fim do ano passado: Coffee viralizou no TikTok ao ser usada como trilha de vídeos fofinhos, e foi executada mais de 900 milhões de vezes no Spotify. Aos 20 anos, Beabadoobee já lançou seu primeiro álbum, Fake It Flowers, e confirmou-se como expoente de uma nova tendência musical: o “bedroom pop”, ou “pop do quarto de dormir”.
O rótulo designa os jovens artistas que despontam nas paradas com músicas compostas, gravadas e distribuídas em esquema doméstico — não raro, de dentro de seus quartos. Para além de método de trabalho, o bedroom pop virou estilo musical: quase sempre são faixas intimistas (e um tanto quanto chatinhas para os ouvidos mais críticos) e com letras reflexivas que remetem à beleza da vida e ao amor — cantadas, sobretudo, por garotas. Embora o movimento tenha explodido na pandemia (afinal, artistas também amargaram o confinamento), ele surgiu um pouco antes, em 2018, com a pioneira Billie Eilish. A cantora de 19 anos, ganhadora de cinco Grammy em 2020, começou a carreira fazendo gravações caseiras com o irmão Finneas. Dias atrás, estreou no país o documentário The World’s a Little Blurry, que mostra os bastidores da produção do premiado álbum When We All Fall Asleep, Where Do We Go?. Seu quarto, claro, ocupa lugar central no filme. No exterior, além de Beabadoobee e Billie, a tendência é engrossada pela americana Clairo, de 22 anos, e pela britânica Arlo Parks, de 20, que lançaram discos elogiados recentemente.
É óbvio que, após a chegada da fama, essas cantoras tomam banho de loja e entram em esquema profissional. Produtores nacionais como Felipe Simas, que revelou a dupla Anavitória, estão de olho em artistas que se identificam com o bedroom pop. “Ainda neste ano vou lançar um cantor com músicas escritas e produzidas em casa na quarentena”, diz ele, fazendo mistério sobre o nome da aposta. Até agora, a principal representante no país é a carioca Giulia Be, de 21 anos. Ela começou transmitindo covers caseiros no YouTube e hoje é dona do hit Menina Solta, com 140 milhões de reproduções no Spotify. “O que conta no bedroom pop é que a canção reflita você”, diz Giulia. Nada como teorizar sobre a vida no aconchego do quarto de dormir.
Publicado em VEJA de 10 de março de 2021, edição nº 2728