Para atriz, ‘Baseado em Fatos Reais’ lembra primeiros filmes de Polanski
Esposa e musa do diretor, atriz francesa diz ter 'fé e confiança' em Roman Polanski, que já a dirigiu diversas vezes no cinema
Foi Emmanuelle Seigner quem levou o livro Baseado em Fatos Reais (Intrínseca), de Delphine de Vigan, para o marido, o cineasta Roman Polanski, a quem se juntou em 1989. Polanski se apaixonou pela história da amizade entre a escritora Delphine (Seigner) e uma mulher obsessiva, Elle (Eva Green). O diretor adaptou a trama para o cinema com ajuda do também cineasta Olivier Assayas, no filme de mesmo nome, que chega agora ao Brasil.
Delphine passa por um momento difícil, logo depois de lançar um livro e sofrer um acidente que a obriga a ter a perna engessada, quando Elle entra como furacão em sua vida. A atriz francesa de 51 anos conversou com a VEJA durante o Festival de Cannes de 2017, onde Baseado em Fatos Reais foi exibido fora de competição:
Li que você levou o livro até Roman Polanski. O que mais lhe interessou no livro? Uma amiga me falou sobre o livro. Achei que era uma história tão incrível, com tantos elementos polanskianos. Me lembrou de seus primeiros filmes, como Repulsa ao Sexo, Armadilha do Destino, O Inquilino, um pouco de O Bebê de Rosemary também. Parecia perfeito. Dei o livro a ele, que amou. Fizemos super rapidamente, porque isso foi um ano atrás. Então foi um pequeno milagre. Foi uma grande aventura.
Quis interpretar a escritora desde o princípio? Sim, queria fazer a escritora. Roman estava hesitante, não sabia se eu deveria interpretar Elle ou não. Mas já tinha feito aquela personagem antes. E também a Eva Green é perfeita para o papel, ela está incrível no filme. Não consigo imaginar o contrário. Ou alguma outra atriz interpretando Elle. Porque ela é tão maravilhosa. Fiquei tão feliz quando aceitou. Acho que ela é perfeita para o papel.
Então você o convenceu? Não foi… Não. Não, foi só por um momento que ele pensou assim.
Você disse que o projeto aconteceu rápido… Foi realmente rápido, um ano apenas no total.
Isso significou que você tinha menos tempo para se preparar ou mudou a maneira como trabalha com Polanski? O que foi difícil do meu ponto de vista é que estou fazendo uma série de televisão ao mesmo tempo, Insoupçonnable, que é a versão francesa de The Fall. Então, estava… Entre as duas coisas. Isso foi complicado. Mas conseguimos. Só que foi muito trabalho.
Posso imaginar, porque a personagem é bem complexa e o relacionamento com Elle também. Não, isso foi fácil.
Foi? Sim, porque com a Eva, desde o princípio, nos conhecemos e nos adoramos. Foi tão mágico! Então, isso foi fácil. E ela é uma atriz tão boa! Foi fácil. A parte difícil foi o gesso, as muletas, a chuva, o frio, isso foi punk.
É importante num filme como este, em que o relacionamento é tão fundamental, que você se dê bem com a outra atriz? Sim! Para mim é importante. Porque sou uma atriz mais orgânica. Não consigo fingir. É difícil para mim. Se não gostasse dela, acho que não conseguiria fazer o mesmo trabalho. O filme seria menos interessante. O fato de Eva e eu termos esse relacionamento foi muito especial. E isso está evidente na tela. Há coisas que não dá para fingir ou mentir.
E a história sobre um relacionamento complexo entre duas mulheres é bem raro, certo? Sim, é muito raro! Há muitos papeis para homens e garotas bem jovens. Mas, para duas mulheres, um duelo assim é ótimo e muito interessante.
E Polanski nunca tinha feito um filme sobre o relacionamento de duas mulheres. Nunca! Nunca!
É incrível. É incrível. Acho que ele gostou bastante, ficou bem feliz.
Sempre é meio dado que em seus filmes você vai fazer algum papel? O quê? Não, não, de jeito nenhum! Não, eu não estava em Deus da Carnificina, nem em O Pianista. Não participei de vários dos filmes dele. E graças a Deus! Ele tem de trabalhar com outras atrizes e outros atores. Claro! Desta vez foi assim. Foi, como se diz… Por acaso. Não, não, não. Não se preocupe.
Não estou preocupada. Não vou estar em todos os filmes dele. Quando é certo. Tenho de ser a pessoa certa para a personagem. É isso.
Claro que a comunicação deve ser fácil sendo atriz e diretor, não? Amamos trabalhar juntos. Ele é um ótimo diretor, então é maravilhoso. Amamos isso. Temos uma relação ótima no trabalho. E confio tanto nele, tenho tanta fé e confiança nele… Não fé, confiança. Então para mim é como uma benção.