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Atrizes de ‘Aruanas’: ‘É preciso sair da bolha e olhar para a Amazônia’

Taís Araújo, Débora Falabella, Leandra Leal e Thainá Duarte falam a VEJA sobre os bastidores da série gravada no interior do Amazonas

Por Raquel Carneiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jul 2019, 10h25 - Publicado em 3 jul 2019, 09h32

“Essa não é a Amazônia para gringo ver. É o Brasil que não passa na televisão”, diz Taís Araújo a VEJA ao falar sobre Aruanas. A série, nova aposta do Globoplay, serviço de streaming da Globo — que exibe na TV o primeiro episódio nesta quarta-feira, 3, às 22h50 —, parece mesmo um ponto fora da curva da corriqueira produção televisiva brasileira, apesar de tratar de um tema demasiadamente local. Na trama criada por Estela Renner e Marcos Nisti, inspirados na ainda atual disputa sobre o território de Renca (Reserva Nacional de Cobre e seus Associados), um grupo de ativistas se embrenha no interior do Amazonas para investigar crimes ambientais provocados por uma mineradora e pelo garimpo ilegal, que contamina com mercúrio a água e, consequentemente, a população local.

É um thriller ambiental, com dramas pessoais, perseguições, investigações e até assassinatos. Verônica (Taís Araújo) é uma ferrenha advogada que defende os ativistas, enquanto mantém, em segredo, um relacionamento com um homem casado. Natalie (Débora Falabella) é uma jornalista em luto, que se afasta do marido. Luiza (Leandra Leal) está perto de perder a guarda do filho pela ausência provocada pelo trabalho na ONG Aruanas. E a estagiária Clara (Thainá Duarte) tenta se livrar de um namorado violento.

Foram 43 dias de gravações intensas no Amazonas, que chegaram a ser interrompidas por alguns dias após um acidente com um barco que prestava auxílio à equipe de filmagem e a morte de um de seus ocupantes. Durante sua passagem pelo local, a produção apostou em ações sustentáveis, como contratação da população local e um acordo com uma empresa especializada em “apagar” a pegada de carbono (um cálculo da quantidade de carbono emitido pela equipe foi usado na hora de eleger um trecho de uma floresta que será preservada por esta companhia para amenizar o efeito das filmagens). A série fez questão de ser o mais verde possível. A seguir, as atrizes do elenco principal falam a VEJA sobre a experiência:

 

Como foi furar a bolha do eixo Rio-São Paulo e gravar uma série no Amazonas?

Taís Araújo – A série entra no Brasil que não passa na televisão. E quando passa é com denúncia de crimes. Temos o hábito de glamorizar a Amazônia exótica, com uma floresta linda, onças, mas essa região também tem problemas e nós vimos isso lá. A série tem essa missão: trazer esse choque de realidade que é o Brasil.

Leandra Leal – Sentimos que é preciso sair da bolha e olhar para a Amazônia. Existe um sentimento de distanciamento do resto do país com essa floresta, um distanciamento que, no entanto, não nos tira a responsabilidade. Pensamos naquela região como um recurso: quando tudo acabar a gente explora a Amazônia. Ter passado este tempo lá me conscientizou sobre isso. É um espaço que precisa ser cuidado. É nosso, mas não para ser explorado, e sim para ser preservado.

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E como pretendem colocar na prática essa nova consciência?

Taís – Quanto mais a gente falar sobre o assunto, mais rápido essa noção de que nossa continuidade depende disso vai se espalhar. Levamos nossos filhos nas filmagens e, o tempo todo, alertávamos sobre o privilégio de estar ali, de conhecer aquela floresta, e de sua preservação. Voltamos para casa e mudamos práticas do dia a dia, pois a consciência ambiental não pode ficar só na retórica, ela precisa ser acompanhada de ação.

Débora – Olhar para o meio ambiente é olhar para o próximo, para seus filhos, seus netos, para as gerações que estão por vir. Minha filha está crescendo num mundo diferente do meu, então ela já é mais consciente do que eu. E isso me dá esperança.

Leandra – Eu tenho uma menina de 4 anos e ela, até hoje, fala sobre a experiência de ter ido até lá, de ver boto-rosa, bicho-preguiça, macaco. Se chega em um restaurante e dão um canudo de plástico, ela logo recusa. Diz que é para proteger as baleias.

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Recentemente, a Amazônia voltou a ser assunto internacional com a reunião do G20. O que pensam sobre a maneira como o assunto foi debatido ali?

Leandra – Eu, na verdade, queria que a Angela Merkel (chanceler alemã que alfinetou Bolsonaro antes da reunião) tivesse sido mais enfática. Precisamos de uma mobilização internacional para mostrar como isso é importante. Esse discurso de que o Brasil é o pais que mais preserva é algo de que deveríamos nos orgulhar e não usar como moeda de troca. Essa é uma vantagem nossa, não é reserva para explorar. Podemos ter os mesmos recursos de formas mais saudáveis e inteligentes.

Taís – A gente é a favor da continuidade, da preservação da floresta, e do progresso também. Não é porque falamos de Amazônia que não queremos progresso. Queremos progresso com responsabilidade.

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O Greenpeace foi um dos parceiros da série. Como foi a preparação com profissionais da área?

Leandra – Fizemos o treinamento que o Greenpeace oferece para voluntários em São Paulo e depois em Manaus. Ali conhecemos a dinâmica do dia a dia, e a relação de paixão que os ativistas têm com o trabalho. Existe uma criminalização da figura do ativista, e a função da série é humanizar e mostrar o trabalho deles. Eles defendem a humanidade. Um exemplo muito simples, pergunte para qualquer pessoa: “Você quer comer agrotóxico, ter câncer?”. Não! Assim como os ativistas que lutam para que isso não aconteça.

Tainá – Foi um aprendizado muito rico. Uma parte que me marcou foram as ações pacíficas, sobre como reagir se uma intervenção armada acontecer. Foi um período fundamental para entendê-los. Cheguei a ir para a rua, naquelas ações em que eles tentam conversar com pessoas para fazer doações, mas raramente alguém para e escuta.

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