Acusado de racismo, museu Tate, em Londres, muda descrição de restaurante
O estabelecimento, que retrata a escravidão de crianças negras em suas paredes, era tido como a "sala mais divertida da Europa"
Quem entrar no site do Tate Museum a partir desta semana, não verá mais o restaurante The Rex Whistler ser descrito como a “sala mais divertida da europa”. A instituição alterou o texto depois de ser acusada de endossar o racismo do mural que recobre suas paredes. A imagem em questão é The Expedition in Pursuit of Rare Meats (A Expedição em Busca de Carnes Raras), uma pintura feita em 1920 pelo artista que dá nome ao estabelecimento e, entre outras coisas, retrata uma criança negra atada a cavalos e uma carruagem através de uma corrente no pescoço.
A obra, dividida em episódios, conta a história de uma expedição de caça do Duque de Epicuria e sua corte, do momento em que partem da Inglaterra até o seu retorno com os achados na viagem. Além da criança, as cenas incluem um leopardo baleado, o roubo de alimentos e uma viagem à muralha da China, com os nativos retratados por meio de estereótipos. “The Expedition in Pursuit of Rare Meats é uma das obras mais importantes de Whistler, mas é preciso reconhecer a presença de representações ofensivas e inaceitáveis e a sua relação com atitudes racistas e imperialistas na década de 1920 e hoje”, diz o novo texto. A descrição segue explicando que a ideia do artista era estabelecer uma progressão de imagens na busca de comidas e bebidas raras por todo o restaurante, a exemplo dos antigos papeis de parede chineses.
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Clique e AssineA controvérsia em torno do mural surgiu na semana passada, após o site The White Pube questionar como um lugar que retrata a escravidão infantil poderia ser visto como “divertido”. A publicação não demorou a ganhar proporções, e deu origem a um abaixo-assinado pela retirada da arte ou realocação do estabelecimento. “O ponto fundamental de um restaurante de classe alta ser decorado com uma arte de natureza tão horrenda não é reconhecer seu teor doloroso e de ódio. O mural soa mais como um filme de terror do que o que esperaríamos de uma experiência gastronômica oferecida pela maior instituição de arte da Inglaterra”, dispara a petição.
O museu não fugiu das críticas, disse estar trabalhando para tornar-se um espaço inclusivo e de acolhimento a todos e reconheceu a natureza do mural como parte do momento em que foi idealizada. “Essa representação demonstra as atitudes de identificação racial que prevaleciam na Inglaterra de 1920. Paradoxalmente, o enfraquecimento do império britânico nesse período despertou expressões culturais da superioridade da “raça britânica”, completa a página do restaurante. Ao The Guardian, um representando do Tate informou que o assunto voltará a ser discutido futuramente e que eles estão abertos a discussões e são transparentes quanto ao teor racista do mural de Whistler. A mudança do texto, nesse sentido, seria parte de um processo em curso para confrontar a história do país e estabelecer representações mais inclusivas da arte britânica.