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‘Acorda, Pedrinho’, o hit que pode virar uma sina para seus criadores

A banda Jovem Dionisio foi do zero ao topo das paradas com canção que resgata o pop rock pueril

Por Felipe Branco Cruz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 11h46 - Publicado em 5 jun 2022, 08h00

Há coisa de duas semanas, a banda Jovem Dionisio se contentava com a escalação para um festival de alcance local em sua Curitiba de origem, no qual lhe caberia “esquentar” o palco para as atrações principais, tocando no ingrato horário das 14 horas. Donos de composições intimistas que falam sobre amor e desilusões, os cinco rapazes de classe média só eram conhecidos no restrito círculo do rock alternativo. Haviam escrito apenas uma canção que destoava do repertório. Feita a título de brincadeira, a letra em questão se valia de humor frugal para contar a história de Pedrinho, um senhor que jogava sinuca no boteco que eles frequentavam, mas dormia de bêbado nas partidas.

Pois a despretensiosa Acorda, Pedrinho se revelou uma tacada de mestre: na véspera do festival, a música viralizou no TikTok, alçando o grupo ao primeiro lugar das paradas brasileiras do streaming. Os efeitos foram imediatos. No dia seguinte (sábado, 21 de maio), o show das 14 horas lotou, famosos como Anitta postaram vídeos dançando o hit improvável, e eles receberam convites para ir a programas da Globo e do SBT no mesmo fim de semana.

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O pop rock calcado em letras irreverentes não é desconhecido dos brasileiros. De Eduardo Dussek e Leo Jaime nos anos 80, passando pelos Mamonas Assassinas nos 90, letras engraçadinhas escoradas em melodias pueris sempre se mostraram uma boa fórmula. Mas, desde o sucesso de Anna Júlia, canção da banda carioca Los Hermanos que virou quase praga bíblica em 1999 — e chegou a ser gravada por Jim Capaldi (ex-Traffic), com direito a uma canja na guitarra do beatle George Harrison —, um fenômeno não se impunha nas paradas em velocidade tão célere. Na terça-­feira 31, mais de uma semana após estourar, Acorda, Pedrinho seguia no topo. A banda era a única de pop rock nacional no Top 50 do Spotify brasileiro, dominado pelo rap, funk e sertanejo.

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Formada pouco antes do início da pandemia pelos amigos Bernardo Pasquali (voz), Gustavo Karam (baixo), Bernardo Hey (teclado) e pelos irmãos Rafael (guitarra) e Gabriel Mendes (bateria), com idades entre 24 e 27 anos, a Jovem Dionisio só foi lançar seu primeiro álbum em março deste ano. Antes, porém, eles já haviam experimentado um gostinho do sucesso com o single fofo Pontos de Exclamação, lançado há dois anos e que já acumulou 31 milhões de execuções no Spotify, além de participação especial na música Aguei, de Anavitória, e Algum Ritmo, dos Gilsons. Exceto por Acorda, Pedrinho, todas as outras faixas do álbum cortejam um público, por assim dizer, descolado. “Nossas referências vão de Arctic Monkeys a Tim Maia”, diz Pasquali, que define a Jovem Dionisio como uma “boy band de boteco”.

A grande inspiração, contudo, vem mesmo dos Los Hermanos. “Sabemos o que Anna Júlia representou. Quando eles tocam a música nos shows, eu até choro”, diz Pasquali. Em 6 de novembro, a Jovem Dionisio será uma das atrações da primeira edição brasileira do festival espanhol Primavera Sound, em São Paulo, ao lado dos ídolos do Arctic Mon­keys. Se até lá Acorda, Pedrinho continuará sendo um trunfo para os curitibanos ou se se tornará uma sina que ninguém vai aguenta mais ouvir, incluindo seus criadores, só o tempo dirá.

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Publicado em VEJA de 8 de junho de 2022, edição nº 2792

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