‘A Casa do Dragão’: os erros e acertos do spin-off de ‘Game of Thrones’
Produção da HBO encerrou sua primeira temporada acendendo o fósforo que vai incendiar guerra civil entre a família Targaryen
Após episódios intensos que marcaram o tão aguardado retorno ao mundo medieval de Westeros, a primeira temporada de A Casa do Dragão chegou ao final neste domingo, 23, incendiando, enfim, a guerra civil entre os herdeiros da família Targaryen. Das lições valiosas da antecessora Game of Thrones sobre o que valia a pena repetir e o que deveria ser repensado, a nova mega produção da HBO finaliza sua estreia triunfal com bons acertos, e um pequeno deslize no meio do caminho. Confira dois pontos positivos e um ponto negativo que marcaram a nova série do universo de George R. R. Martin:
Troca de elenco
Ao contrário de Game of Thrones, em que os atores e atrizes cresceram junto com seus papéis, o spin-off optou por demarcar de forma acentuada a diferença de idade entre as protagonistas. A decisão ajuda a deixar momentos chocantes sob a responsabilidade do time adulto. Vale lembrar o exemplo de Sansa, vivida por Sophie Turner. Quando a personagem foi apresentada, em 2011, a atriz tinha 15 anos de idade. Não demorou para que ela virasse moeda de troca entre homens de várias casas de Westeros — sendo o pior momento quando ela é estuprada e agredida pelo tenebroso Ramsay Bolton (Iwan Rheon). Na época da cena, Sophie tinha 19 anos, mas sua personagem ainda era mais nova e o apego do público à menina fez com que muitos repudiassem a situação. Ao trocar o elenco de fases, A Casa do Dragão se livra de vez desse tipo de desconforto. Na primeira fase da série, ainda adolescentes, Rhaenyra e Alicent foram interpretadas, respectivamente, pelas ótimas estreantes Milly Alcock e Emily Carey — ambas maiores de idade na vida real. Na fase adulta e atual da produção, as duas são vividas por Emma D’Arcy e Olivia Cooke.
O carisma de Matt Smith e Paddy Considine
É difícil encontrar séries com um elenco tão coeso e afinado quanto este de A Casa do Dragão. Mas os irmãos Viserys e Daemon Targaryes são um assunto a parte. Graças ao carisma e à potência de Matt Smith e Paddy Considine, a dupla ofereceu ao espectador uma conexão hipnotizante. Apesar do personagem todo torto e vilanesco de Smith, o ator conseguiu imprimir em Daemon um charme cativante — o que fez com que muitos escolhessem “passar aquele pano” pelas atrocidades que ele cometeu ao longo da temporada. Até mesmo a produtora e roteirista Sara Hess disse, ao The Hollywood Reporter, que ficou chocada por Daemon ter se tornado o “namoradinho da internet” — termo usado para pessoas que ficam populares e provocam suspiros nos fãs, que se manifestam sem receio de julgamento nas redes sociais. No caso de Considine, que definhou (em todos os sentidos possíveis) ao longo dos episódios, o inglês ilustrou com coragem o que acontece com um rei que é bondoso demais em um ambiente hostil como Westeros — seu próximo passo, ao que tudo indica, é vencer o próximo Emmy.
Ritmo acelerado demais
Mesmo sendo um sucesso absoluto, Game of Thrones arrebanhou críticas por diversos pontos. Entre eles, o ritmo lento demais por várias temporadas, e muito acelerado na reta final. A Casa do Dragão foi ainda mais longe: a série engatou a quinta marcha sem pisar no freio. Para não cometer o erro da antecessora — e para cumprir o plano de finalizar a história em quatro temporadas —, a produção apostou no ritmo frenético, com saltos temporais e uma comunicação tão rápida entre as casas que faz com que o WhatsApp pareça pré-histórico. Como resultado, alguns buracos ficaram na história e personagens que poderiam ser melhor explorados foram descartados rapidamente. A relação amorosa de Daemon e Laena Velaryon foi mostrada, de forma tímida, em apenas um episódio. A filha de Corlys e Rhaenys, inclusive, foi vivida por três atrizes diferentes, sendo que as três tiveram pouquíssimo tempo de tela. O mesmo caso abateu Rhaenyra e Harwing Strong. O pai dos três filhos bastardos da princesa mal apareceu e sequer teve diálogos consistentes com a amada antes de encontrar o fim típico do mundo de Westeros.
Tá claro ou tá escuro?
O sétimo episódio da série movimentou reclamações nas redes sociais pelas cenas escuras e com pouco contraste, difíceis de serem assimiladas pelo público. A técnica de gravação usada no capítulo é uma novidade no meio. Em vez de filmar cenas noturnas durante a noite, essa filmagem foi feita durante o dia o ganhou um filtro escurecido na pós-produção. A HBO respondeu as críticas, defendendo a “escolha artística” feita pela produção e pedindo que os espectadores assistam ao episódio em um ambiente escuro e com o brilho da TV mais forte.