6 elogiados documentários de tom político para ver na Netflix
Longas indicados a prêmios como o Oscar oferecem visões internas de conflitos mundiais, além de denúncias e análises relevantes para os dias atuais
Da frieza de um genocídio à adrenalina de protestos da Primavera Árabe, passando por um grupo de corajosos defensores de gorilas. O catálogo da Netflix oferece alguns interessantes documentários, muitos indicados a prêmios como o Oscar, que se destacam pelo olhar diferenciado — e humano — trazendo à tona questões relevantes no mundo atual. Confira uma seleção de seis bons filmes de tom político para ver no site de streaming:
The Look of Silence
Um genocídio esquecido. Assim é definido o expurgo anticomunista que aconteceu na Indonésia em 1965, tema de The Look of Silence, de Joshua Oppenheimer, indicado ao Oscar de melhor documentário em 2016. Estima-se que 500.000 pessoas tenham morrido. Ao contrário do que o espectador possa imaginar, a produção não mostra cenas sangrentas e desenha o conflito a partir da perspectiva de um homem que decide confrontar cara a cara os assassinos de seu irmão, em conversas que reúnem torturadores e as famílias das vítimas. A sutileza com que o assunto é retratado em termos visuais não ameniza o tom perturbador da frieza das palavras dos assassinos.
Virunga
Uma empresa britânica ávida por petróleo, um grupo guerrilheiro e gorilas sob ameaça de extinção. A combinação inicialmente estranha se mostra digna de revolta ao ser descortinada como denúncia pelo diretor Orlando von Einsiedel, com produção do ator e ativista Leonardo DiCaprio. O documentário indicado ao Oscar acompanha a história de quatro pessoas que arriscam suas vidas para salvar os 800 gorilas-das-montanhas que vivem no Parque Nacional de Virunga, alvo dos olhares gananciosos da petrolífera britânica Soco que quer explorar o solo do local. Mais de 140 guardas florestais foram mortos por milícias financiadas pela empresa. O longa de 2014 faz uma bela mistura de cenas de prender a respiração e outras para recuperar o fôlego, com destaque para a relação entre os gorilas órfãos e seu cuidador.
The Square
A Praça Tahrir, localizada na capital egípcia, foi o palco da faísca que incendiou o país com uma série de protestos entre 2011 e 2013, parte da Primavera Árabe. É nesse local que nasce o documentário de Jehane Noujaim, mostrando o calor vivido pelos rebeldes que lutaram pelo fim do governo do ditador Hosni Mubarak e continuaram articulados depois da conquista. A revolução é narrada sob o ponto de vista de três cidadãos: um ator hollywoodiano de família egípcia, um jovem cansado das condições de vida no local e um religioso da Irmandade Muçulmana. A proximidade com o trio e o retrato da praça como um coração pulsante no meio de Cairo, que dá vida ao movimento político do país, dá o tom do documentário e justifica sua indicação ao Oscar de 2014.
Winter on Fire: Ukraine’s Fight for Freedom
O cineasta Evgeny Afineevsky acompanhou os confrontos em Kiev, capital ucraniana, em 2013, e conta em detalhes como os protestos pacíficos reivindicando a integração com a União Europeia acabaram em um conflito sangrento, abastecido pela repressão da polícia de choque local. Indicado ao Oscar de 2016 e com ares que lembram The Square, o filme ganha pontos pelo mosaico formado por cidadãos presentes nas lutas (desde um menino de 12 anos de idade, passando pela comunidade religiosa, até ex-militares) e pelas cenas gravadas em meio aos 93 dias de conflito.
The Propaganda Game
O diretor Álvaro Longoria mostra as sutilezas da manipulação ideológica do regime norte-coreano. Com uma alternância de cenas mostrando cidadãos felizes e a presença constante dos militares e das figuras de ex-líderes supremos, o documentário abrange a doutrinação que permeia todos os aspectos da vida no país — a educação, os meios de comunicação, as celebrações e o lazer. Ao mesmo tempo em que a produção destrói a concepção ocidental de que a população local é infeliz e miserável, ela sutilmente questiona: até que ponto esta felicidade é real?
A 13ª Emenda
A relação entre a criminalização da população negra e a superpopulação carcerária dos EUA é explorada no documentário de Ava DuVernay. Também indicada ao Oscar e vencedor do Bafta, a produção mostra a fundo como a figura do negro começou a ser associada ao mundo do crime e como a promulgação de leis e os interesses econômicos de certos grupos sociais contribuem para essa perpetuação. Com uma mistura de gravações antigas mostrando o racismo explícito nas ruas americanas e passagens atuais (como Donald Trump em um polêmico discurso antes de se tornar presidente), o filme prende a atenção do espectador desde o primeiro minuto.