Provocativa, mas sutil: como foi a estreia de Jonathan Anderson à frente da Dior Homme?
Em seu primeiro desfile masculino na maison, o estilista propõe uma virada estética refinada e provocadora entre códigos clássicos e um novo rigor poético

Com olhar meticuloso, Jonathan Anderson fez sua estreia na Dior Homme nesta semana, durante a Semana de Moda Masculina de Paris, com um desfile que equilibrou a reverência à herança da maison francesa, mas com um claro desejo de reinvenção.
O cenário veludo cinza forrava as paredes de um espaço temporário para eventos dentro do Invalides, o palácio com cúpula dourada onde Napoleão está enterrado, onde eram exibidos apenas dois raros óleos do século XVIII de Jean Siméon Chardin, emprestados pelas Galerias Nacionais da Escócia e pelo Louvre – uma moldura quase neutra para destacar peças que falavam por si em um sopro de intelectualismo e tensão poética que Anderson trouxe ao guarda-roupa masculino da grife francesa – sem recorrer a excessos ou rupturas muito radicais.
Na estrelada primeira fila, a expectativa era grande: Robert Pattinson batendo papo com Josh O’Connor; Donatella Versace trocando impressões com Roger Federer e Rihanna, grávida, chegou com ASAP Rocky, 45 minutos após o horário oficial de início do desfile. Na passarela, o estilista norte-irlandês, o primeiro a ser responsável pelas coleções masculina e feminina da Dior e conhecido por seu trabalho autoral na Loewe e em sua marca própria JW Anderson, apostou em um caminho do meio entre formalidade e informalidade, roupas masculinas e femininas, comércio e criatividade, convencendo que contradições podem coexistir com elegância.
Apostou em casacos com estruturas esculturais e peças que flertavam com o feminino, mas sem parecerem frágeis – por exemplo, uma versão do paletó Bar, o modelo mais famoso de roupa feminina da Dior (aquele que fez a editora da Harper’s Bazaar, Carmel Snow, pular da cadeira gritando: “É um novo visual!” em 1947), reinventado em um tweed Donegal com costas retas e forma de ampulheta.
Para cada peça rebuscada, havia uma igual e oposta usada em conjunto – haviam malhas trançadas sob casacos elaborados com cintura alta; sobretudos de veludo combinados aos jeans desbotados; casacos e coletes cortados com costas trapézio.
Não foi uma revolução gritante como as de seus antecessores John Galliano e Hedi Slimane. O novo diretor criativo da Dior Homme parece ter escolhido um caminho mais sutil e silencioso para plantar uma nova linguagem dentro de uma estrutura já consagrada. Se por um lado a coleção pode parecer conceitual demais, por outro inaugura uma nova fase mais construída sobre uma masculinidade pensante e atenta aos detalhes.
É cedo para medir o impacto, mas uma coisa é certa: com Anderson, a Dior masculina entra em uma era de reflexão e experimentação, e que já abriu o apetite para sua primeira coleção de roupas femininas, a ser apresentada em setembro.
Veja looks:




