Pompeia limita visitantes diários e amplia onda de restrições a turistas
Além de preservar o patrimônio histórico, autoridades estão tentando evitar que destinos badalados sofram com o fenômeno do "overtourism"

O Parque Arqueológico de Pompeia, no sul da Itália, anunciou mudanças importantes na maneira como receberá turistas. Haverá um limite de 20 mil visitantes diários, que terão ingressos nominais e com um período de tempo determinado. Embora raramente as ruínas recebam tamanho volume de gente em um único dia – em maio de 2024, mês mais movimentado, foram 16.700 visitantes diários, em média, segundo dados divulgados pela United Press International -, a estratégia busca reduzir os riscos de dano ao patrimônio.
Há diversos relatos de pessoas vandalizando destinos turísticos de enorme valor histórico e arqueológico. Turistas já foram pegos escavando seus nomes nas paredes de Pompeia e nas rochas do Coliseu. Em junho do ano passado, um grupo de praticantes de Parkour danificou prédios históricos da cidade de Matera, na região de Basilicata. Em dezembro, uma iniciativa da plataforma Airbnb para promover o filme Gladiador 2 que seria realizada no Coliseu recebeu severas críticas da população local.
Além do cuidado com o patrimônio, há outro fator envolvido na decisão. Para quem viaja a passeio à Europa, visitar cidades históricas, ver de perto pontos turísticos famosos e provar comidas diferentes é uma experiência incrível. Mas para os habitantes desses locais, o influxo excessivo de estrangeiros pode ser um verdadeiro transtorno. Neste ano, multidões de insatisfeitos com o fenômeno conhecido como “overturism” foram às ruas de cidades da Espanha e Amsterdã exigindo ações concretas dos governos locais para impor restrições à chegada de viajantes. Organizadores dessas manifestações dizem que não são contra o turismo, mas afirmam que é preciso colocar ordem no meio do caos.
As demandas de quem protesta fazem sentido. Em destinos turísticos badalados, falta moradia para os habitantes, já que muitos imóveis são convertidos em espaços de aluguel para curtas temporadas, movimento facilitado por plataformas como o Airbnb. Há um excesso de poluição e a rotina dos moradores é prejudicada pelos visitantes.
Ao mesmo tempo, o turismo é peça fundamental na economia de vários países europeus. No caso da Espanha, por exemplo, representa 14% do PIB. Em 2024, a busca por destinos europeus também cresceu 7,2% em relação ao ano anterior, segundo dados da Unidade de Turismo da Comissão Europeia. A perspectiva para 2025 é um crescimento ainda maior.
Nesse cenário, as autoridades locais têm tentado impor algumas restrições. Veneza, na Itália, passou a cobrar uma taxa de 5 euros de cada visitante – e pode cobrar uma multa de 500 euros daqueles que não pagarem a entrada. Na França e em Londres, ônibus de excursão pagam valores altíssimos para estacionar em locais disputados. Para muitos, as medidas não são suficientes. No caso de Veneza, os moradores afirmam que o valor irrisório não está impedindo os visitantes. Na realidade, está transformando a cidade em um “parque temático”.
Os benefícios do turismo são inegáveis, tanto para a economia local quanto para quem visita destinos diferentes. Mas talvez seja o momento de criar um modelo sustentável que leve em conta as necessidades de quem mora nesses locais durante todo o ano, e não apenas na alta temporada.