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Na contramão do mundo, cidades brasileiras voltam a alugar patinetes elétricos

Eles foram abolidos de metrópoles como Paris, Madri e Melbourne em decorrência do número excessivo de acidentes

Por Júlia Sofia
Atualizado em 17 fev 2025, 14h59 - Publicado em 16 fev 2025, 08h00

No começo, há cerca de cinco anos, todo mundo achou legal: driblar o trânsito, sem fazer esforço, com os pés plantados em um patinete elétrico, ganhando tempo e contribuindo para que a meta de zero emissão de carbono nas grandes cidades fosse atingida — ainda por cima com o bônus de sentir o vento soprando no rosto. Assim, rapidamente, as empresas de aluguel de e-scooters invadiram as ruas das metrópoles mundo afora. Com a mesma velocidade, contudo, os problemas passaram a surgir: pilhas deles atravancando as calçadas, roubos em quantidade, acúmulo de acidentes com pedestres e outros veículos de maior porte. A situação levou alguns dos principais centros urbanos do mundo a restringirem o uso dos patinetes com celeridade.

Agora, as cidades brasileiras resolveram dar uma chance ao controverso meio de transporte, que havia sumido da paisagem depois de as companhias que operavam no país acumularem prejuízos. Desde o fim do ano passado, a empresa russa Whoosh passou a oferecer o serviço em São Paulo. Antes, já tinha obtido licenças para atuar no Rio de Janeiro, Porto Alegre e Florianópolis. “Desde o início adotamos um modelo diferente, com diálogo constante com o poder público e medidas para garantir a segurança”, diz o CEO, Francisco Forbes. Na capital paulista, os veículos só estão autorizados a circular nas ciclovias e não podem passar de 20 quilômetros por hora. No Rio e em Porto Alegre, a velocidade é reduzida durante os fins de semana, quando as vias da orla são fechadas para lazer. Só maiores de 18 anos podem alugar os patinetes e caronas são estritamente proibidas. Qual o quê: basta uma volta pela cidade para notar que nem todos os usuários respeitam as restrições.

A imprudência dos condutores tem levado a um aumento dos acidentes. Um estudo da Universidade da Califórnia concluiu que os ferimentos causados por patinetes elétricos nos Estados Unidos cresceram 45% ao ano, entre 2017 e 2022. É situação que levou Paris, uma das pioneiras em sua disseminação, a interromper a operação em setembro de 2023, depois de 90% da população, em referendo, ter votado pelo banimento. A medida foi seguida por Melbourne e Madri. Em Londres, a prefeitura introduziu regras rigorosas: só pode alugar um desses veículos quem for maior de idade, ter carteira de motorista britânica e concluir um curso de direção. Roma decidiu aplicar multas altíssimas a infratores depois de uma turista americana causar danos de 25 000 euros ao descer a célebre Escadaria Espanhola em cima do aparelho. “Patinetes não têm estrutura de proteção, então qualquer colisão pode ser potencialmente letal, especialmente sem o uso de capacete”, diz Antonio Meira Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego.

A dor de cabeça provocada pelos e-scooters não se deve apenas à regulamentação frágil, mas à falta de infraestrutura urbana. Espremidos entre os carros e os pedestres, na disputa por espaço, brigam para sobreviver. Por serem “limpos”, insista-se, são celebrados. “Falta coragem dos gestores para tirar os carros das ruas”, diz Sergio Avelleda, professor de urbanismo do Insper, ao sugerir a retração de motores e a expansão dos objetos individuais, algo egoísta, mas sustentável. É um caminho, embora utópico.

Publicado em VEJA de 14 de fevereiro de 2025, edição nº 2931

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