Morre Carlos Lemos, arquiteto que colaborou com Niemeyer na construção do Copan
Aos 100 anos, Lemos deixa legado como professor da FAU-USP, defensor do patrimônio cultural e autor de obras clássicas sobre a arquitetura brasileira
Faleceu nesta quarta-feira (6), aos 100 anos, o arquiteto Carlos Alberto Cerqueira Lemos, um dos nomes centrais da arquitetura brasileira. Professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo por quase seis décadas, Lemos coordenou a construção do edifício Copan, em São Paulo, a partir do projeto de Oscar Niemeyer, e teve papel de destaque na preservação do patrimônio histórico e na historiografia da arquitetura nacional.
Formado pela primeira turma da Faculdade de Arquitetura da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1950, Lemos foi convidado por Niemeyer dois anos depois para comandar o escritório do arquiteto carioca na capital paulista. Supervisionou a execução de projetos emblemáticos como o Copan, o Montreal e o Triângulo, todos encomendados pelo Banco Nacional Imobiliário, e integrou a equipe responsável pelo Parque Ibirapuera. Também projetou residências em cidades como São Paulo, Ubatuba e Ibiúna, atendendo, entre outros, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Na universidade, Lemos foi uma figura marcante. Ingressou como professor em 1954 e teve papel importante na consolidação de uma abordagem interdisciplinar no ensino de arquitetura, com diálogo entre história, urbanismo, sociologia e cultura material. Recebeu o título de Professor Emérito da Universidade de São Paulo em 2022.
Fora da academia, foi o primeiro diretor técnico do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo e teve atuação destacada no Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e no Museu da Casa Brasileira. Participou da preservação de edifícios como a Estação da Luz e o Instituto Caetano de Campos e ajudou a consolidar o conceito de patrimônio ambiental urbano no Brasil.
Autor de dezenas de livros, publicou obras fundamentais como Dicionário da Arquitetura Brasileira, Alvenaria Burguesa e O que é Patrimônio Histórico. Em Cozinhas etc. (1976), tratou das zonas de serviço das casas paulistas, antecipando debates sobre gênero, classe e arquitetura, em uma perspectiva ainda rara na época. Também escreveu para jornais como Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo, e revistas especializadas da área.
Em sua autobiografia Viagem pela Carne, lançada aos 80 anos, descreveu-se com modéstia como “arquiteto de comedido desempenho”. Mas sua trajetória como docente, pesquisador e preservacionista deixou uma marca profunda na maneira como o Brasil entende e valoriza sua arquitetura.







