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Kate Moss completa 50 anos consolidando trajetória única no mundo fashion

A supermodelo prova ter cravado seu nome e legado, ainda que cercados de burburinhos, na história das passarelas e das celebridades

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h20 - Publicado em 27 jan 2024, 08h00

Não sobrou pedra sobre pedra. “Nada melhor do que se sentir magra”, declarou Kate Moss em uma famigerada entrevista que repercutiu por todos os cantos em 2009. Hoje impensável, a frase gerou calorosos protestos, entre eles a acusação de enaltecer a anorexia, o distúrbio que leva as pessoas a terem uma visão distorcida de seu corpo e tentarem de tudo para perder peso. Ícone da magreza nas passarelas — atributo por si só problemático pelo histórico de restrições e prejuízos às candidatas a top model —, a britânica coleciona um rosário de polêmicas, dentro e fora do mundo da moda, desde que foi descoberta no aeroporto internacional de Nova York aos 14 anos. Aos 50 anos, recém-completados, ela prova ter cravado seu nome e legado, ainda que cercados de burburinhos, na história das passarelas e das celebridades.

PAIXÕES - Romances conturbados: com Johnny Depp (à esq.) e Jamie Hince
PAIXÕES - Romances conturbados: com Johnny Depp (à esq.) e Jamie Hince (Barry King/WireImage/Getty Images; Indigo/Getty Images)

Kate estrelou sua primeira — e lendária — campanha da Calvin Klein, vestindo apenas uma calça jeans, na década de 1990, era de ouro das supermodelos, até então mulherões cheios de curvas e maquiagens, como Cindy Crawford e Naomi Campbell. Muito jovem, chegou de forma tímida, mas sua beleza imperfeita de ossos aparentes, dentes separados e sardas, fora dos padrões e sem grandes produções, invadiu o mercado como um furacão, mudando a direção dos ventos a seu favor e abrindo as portas para a tendência heroin chic, com garotas magérrimas, de pele pálida, olheiras e expressão de ressaca — daí a referência à droga. “Kate era o oposto das modelos curvilíneas”, diz Anderson Baumgartner, fundador da agência Way, que revelou as brasileiras Alessandra Ambrosio e Caroline Trentini. A atitude na passarela e o comportamento avesso às regras também a fizeram virar alvo de disputa entre as grifes e a tornaram uma das profissionais mais bem pagas do planeta. “Enquanto as modelos se adaptavam às exigências do mercado, ela não estava nem aí para o que pensavam”, afirma Baumgartner.

PEDIGREE - Com a filha, Lila Moss (acima): estrelas da Calvin Klein
PEDIGREE - Com a filha, Lila Moss (acima): estrelas da Calvin Klein (Stephane Cardinale/Corbis/Getty Images)

Temperamental e de personalidade forte, a britânica sempre pregou não se arrepender de nada e jamais se justificava sobre atitudes de sua vida pessoal, frequentemente expostas nos tabloides. Constam em sua biografia os conturbados romances com o ator Johnny Depp e o músico Pete Doherty e as noitadas marcadas por excessos. Deu de ombros inclusive perante um escândalo envolvendo uso de drogas, quando, em 2005, jornais ingleses publicaram fotos em que a modelo aparecia cheirando cocaína, o que a fez perder contratos com Burberry, Chanel e H&M. O episódio, contudo, não mudou a opinião de quem já morria de amores por ela — e não eram poucos —, como o prestigiado estilista Alexander McQueen. Para apoiá-la, bolou um desfile que reproduzia a imagem da diva como um holograma e, ao final, surgia na passarela vestindo uma camiseta com os dizeres “We love you, Kate”.

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ESCÂNDALO - Uso de cocaína: fotos da modelo rodaram o mundo
ESCÂNDALO – Uso de cocaína: fotos da modelo rodaram o mundo (./Reprodução)

Após um período de reabilitação, a modelo ressurgiu mais poderosa do que nunca, com contrato milionário e pronta para lançar sua primeira coleção, em 2007. O respeito que o universo fa­shion lhe dedica até hoje é tamanho que, mesmo com um passado regado a sexo, drogas e rock‘n’roll, a britânica continua mantendo o fôlego de uma trajetória bem-sucedida, agora com sua marca de wellness e uma agência para representar artistas e top models, incluindo a filha, Lila Moss, hoje rosto de grifes como Versace e, honrando o pedigree, Calvin Klein. A Kate Moss 5.0, louvada pelos experts como uma das figuras mais relevantes da moda nas últimas três décadas por ter mudado o padrão de beleza e introduzido o street wear nos desfiles, segue um espírito livre, ainda que hoje também curta uma rotina entremeada de sessões de ioga e passeios com o cachorro. Diz não querer parar de fumar e aprecia as festas comemoradas como se não houvesse amanhã. Fato é que a antimodelo de língua ferina inaugurou novos tempos para uma geração de mulheres e, mesmo com declarações politicamente incorretas, trouxe diversidade e irreverência às passarelas. Goste-se ou não, Kate Moss continua na moda.

Publicado em VEJA de 26 de janeiro de 2024, edição nº 2877

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