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Kate Middleton faz das estampas com bolinhas uma assinatura visual

Estilo é um modo de fugir da formalidade imposta pelas cerimônias da realeza. Deu certo

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h20 - Publicado em 2 jul 2023, 08h00

Um dia desses, como quem foge das amarras impostas pela realeza, a herdeira do trono britânico afirmou: “Eu sou muito Kate”. Embora não tenha rompido com influências históricas nem tampouco reinventado a roda, a princesa de Gales criou um estilo próprio abaixo e acima de suas covinhas. Um estudo recente revelou a colossal capacidade de a “mais poderosa influenciadora de moda real” impulsionar a indústria britânica de roupas em até 1 bilhão de libras por ano, o equivalente a mais de 6 bilhões de reais. Mas, afinal, o que é ser muito Kate, para além da evidente inspiração e homenagem à princesa Diana, sua sogra, morta tragicamente em 1997?

Uma resposta possível: é desfilar com pompa e circunstância em poás. A cada aparição pública, e são muitas e intermináveis, ela enverga, com cores e contrastes diferentes, estampas de bolinhas que preenchem da barra da saia à gola ou ao decote. Diana, é verdade, também apreciava a estampa — embora a consumisse com moderação. Ela gostava mesmo de composições chamativas, a cara dos anos 1980 e 1990, no avesso do tom insosso do príncipe que viraria rei, Charles. Kate dá outra nuance, sem os exageros do passado, com modelitos que priorizam bolinhas menores impressas em cortes tradicionais — que, às vezes, até exalam ares de nostalgia.

HERANÇA - Diana: chamativa como foram os anos 1980 e 1990
HERANÇA - Diana: chamativa como foram os anos 1980 e 1990 (Jayne Fincher/PDA/Getty Images)

Vestir-se de modo adequado não é ciência exata, mas há boa dose de cálculo, sem o qual haveria erros em profusão. Na semana passada, ao acompanhar o cortejo da cerimônia da Ordem da Jarreteira, a mais antiga láurea militar de cavalaria britânica, do século XIV, atavicamente leve, já com calor de verão, Kate desfilou a bordo de um refinado vestido com decote alto, mangas compridas e cintura marcada — para roubar a cena e não teve para ninguém. O modelo é assinado pela designer italiana Alessandra Rich, sua preferida para a criação das peças com poás. Ao sair da maternidade com o filho George nos braços, em 2013, diante das câmeras, Kate usava azul-bebê com bolinhas brancas. Na visita ao Centro Comunitário Ucraniano, em apoio às famílias que enfrentam a guerra, e na missa em homenagem ao príncipe Philip, em 2022, modelos escuros e discretos com pontinhos brancos pediram passagem, em nome da discrição que as situações exigiam.

As bolinhas, como se vê, vão com tudo, e as de Kate, mais ainda. “Os poás dela são clássicos, mas sem sisudez”, diz a consultora de moda Manu Carvalho. “Afastam-se do recado sexy das pin-ups e assumem um tom elegante, como pede a estética de uma princesa moderna.” Há até quem interprete o desenho como instrumento de afirmação pessoal, como quem quer dizer alguma coisa com o que veste — e é isso mesmo. É uma estampa dinâmica, que traz um quê lúdico pelo formato circular, simétrico e repetitivo das figuras. “Os poás dão a impressão de abertura e de diversão”, diz a psicóloga Tash Bradley, diretora de design da Lick, uma reputada rede de estudos de cores e decoração. É algo que a mulher de William sabe manejar com maestria, no avesso da formalidade exagerada (e convém ressaltar que a bem-humorada rainha Elizabeth II também sabia rompê-­la, ao despontar com vestidos e chapelões coloridos até não mais poder).

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HISTÓRIA - Entre as pin-ups das revistas (à esq.) e as estrelas do cinema, como Marilyn Monroe, em 1950: a ingenuidade com pegada evidentemente sedutora
HISTÓRIA – Entre as pin-ups das revistas (à esq.) e as estrelas do cinema, como Marilyn Monroe, em 1950: a ingenuidade com pegada evidentemente sedutora (Divulgação; Archive Photos/Getty Images)

Os petit-pois, assim, com a grafia francesa, que significa “ervilhas”, surgiram nos tecidos no fim do século XIX, com o nome de polka dots, em referência à polca, dança de origem polonesa que, com seus movimentos circulares, popularizou-se nos bailes e salões e teria servido de inspiração. Seu primeiro registro no mundo da moda data de 1854, na revista literária Yale. Outra teoria, um pouquinho mais recente, atribui a presença das bolinhas nos vestidos a Walt Disney. Ele as projetou, em 1928, para o vestido de ninguém menos que Minnie Mouse, logo nas primeiras historietas infantis. Depois, nos anos 1950, Marilyn Monroe e Audrey Hepburn as incorporariam com pegada sedutora nas telas do cinema. Nos anos 1960, ganhariam modernidade geométrica com a modelo Twiggy. E, então, Kate “reinventou o clássico”, na definição do estilista Reinaldo Lourenço. O que dizer agora? Deus salve as bolinhas.

Publicado em VEJA de 5 de Julho de 2023, edição nº 2848

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