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Gigante da fast fashion, a Zara tenta se reinventar

A estratégia envolve sustentabilidade e inovação para enfrentar a era do e-commerce e os novos tempos do consumo consciente

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 20 jul 2025, 08h00

Há meio século, em La Coruña, na Espanha, uma loja de roupas começou a costurar uma revolução na indústria da moda. A ideia foi de Amancio Ortega, então um entregador de camisas. A Zara — que era para ser chamada de Zorba, em homenagem ao filme Zorba, o Grego, mas foi rebatizada por já haver nas redondezas um bar com o mesmo nome do clássico do cinema — emergiu com um conceito audacioso: encurtar o tempo entre a concepção de uma peça e sua chegada às araras. Era a inauguração do fenômeno do fast fashion — modelo que, nas últimas décadas, dominou o varejo.

Hoje cinquentona, a Zara exala jovialidade. É a joia da coroa da Inditex, conglomerado que abarca um portfólio de marcas, incluindo Massimo Dutti e Pull & Bear, além de outras seis grifes. Com presença global em mais de 5 500 lojas em 98 países, o grupo ostenta excelentes resultados financeiros. No último exercício, as vendas totalizaram mais de 45 bilhões de dólares, com lucro líquido de 6,9 bilhões de dólares. O fundador, aos 89 anos, é uma das figuras mais abastadas do planeta, com fortuna estimada em impressionantes 120 bilhões de dólares, a nona do planeta.

ALVO FREQUENTE - Protestos em Milão: marca que chama atenção
ALVO FREQUENTE - Protestos em Milão: marca que chama atenção (Emanuele Cremaschi/Getty Images)

De uns tempos para cá, a competição ficou muito mais acirrada, devido às aceleradas transformações impostas pela velocidade da internet. Premida pelo sucesso de titãs digitais como Shein e Temu, que operam em ritmo mais rápido e a custos mais competitivos, a Zara teve queda de 4% nas vendas no último trimestre. Nada assustador, tampouco nada que rompa com a premissa inaugural, o da aceleração do ciclo de criação, produção e distribuição — reduzindo-o de seis meses para três semanas. Dessa forma, peças recentemente lançadas nas passarelas de Paris, Nova York e Milão não demoram a ter seu estilo reproduzidos na rua, entre comuns mortais.

Além da concorrência, a Zara teve de superar no meio de sua trajetória um escândalo. Em 2011, a marca enfrentou acusações de envolvimento com trabalho análogo à escravidão em oficinas terceirizadas no Brasil. Embora medidas corretivas tenham sido implementadas e sistemas de compliance mais rigorosos estabelecidos, o episódio deixou uma mancha na reputação da empresa. Desde então, a Zara tem se empenhado em um reposicionamento de sua imagem, adotando um discurso mais alinhado à ética e à sustentabilidade.

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IMPÉRIO - Fábrica em Arteixo, na Espanha: linha de produção azeitada para encurtar o tempo de chegada às araras
IMPÉRIO - Fábrica em Arteixo, na Espanha: linha de produção azeitada para encurtar o tempo de chegada às araras (Xurxo Lobato/Cover/Getty Images)

O dilema, contudo, persiste: como conciliar a sustentabilidade com uma escala de produção? O próprio grupo Inditex reconhece a complexidade da travessia e tem investido para reverter essa percepção. Um dos pilares dessa transformação é o programa Join Life, que estabelece metas, como a eliminação de plásticos descartáveis nas lojas, a utilização de algodão de origem responsável e o compromisso de que 100% das matérias-primas sejam mais sustentáveis até 2030. “Hoje não existe algodão sustentável suficiente no mundo para atender à demanda da Zara”, diz Lorena Borja, especialista em tendências de consumo do Istituto Europeo di Design (IED).

Em outro passo destinado à sobrevivência, nos últimos anos a Zara tem intensificado os esforços para tentar a difícil missão de se consolidar como uma marca de luxo acessível, e não como ícone da simplicidade. Coleções de nomes como o do estilista Stefano Pilati e Kaia Gerber, filha da supermodelo Cindy Crawford, além de colaborações com perfis como o Style Not Com, buscam seduzir um público exigente. A questão que se impõe é: será essa estratégia suficiente para garantir segurança comercial associada ao dinamismo da confecção?

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FUNDADOR - Amancio Ortega, aos 89 anos: a nona fortuna do mundo
FUNDADOR – Amancio Ortega, aos 89 anos: a nona fortuna do mundo (Europa Press/Getty Images)

Na prática, a Zara trilha estrada um tantinho menos centrada na rapidez (essencial, na lida com os algoritmos que decifram os gostos dos consumidores) e mais no real desejo do bem-vestir. É difícil, embora não impossível, o casamento das duas artimanhas. A marca aspira transcender a mera função de destino de compras, almejando tornar-se referência de estilo e comportamento. É, novamente, uma corrida contra o tempo, um tempo especial. O relógio contemporâneo marca as horas da crise climática, do consumidor ético, da chamada moda circular. “É um negócio em que nada é garantido”, resume o CEO da empresa, Óscar García Maceiras. A Zara pode ter sido a inventora do fast fashion, mas agora precisa provar que pode sobreviver àquilo que ela mesma criou. Os próximos cinquenta anos serão decisivos, no permanente equilíbrio frágil que é indissociável da engrenagem do estilo, que não para de se reinventar.

Publicado em VEJA de 18 de julho de 2025, edição nº 2953

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