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Festas sem fim: as intensas comemorações de aniversários da geração Z

Quem disse que se festeja a data apenas uma vez por ano? A turma jovem agora comemora durante dias e com diversos grupos

Por Duda Monteiro de Barros, Paula Freitas Atualizado em 4 jun 2024, 09h30 - Publicado em 14 jan 2024, 08h00

A turma que viveu parte da juventude isolada em casa por conta da pandemia saiu mudada do confinamento. Empenhada em recuperar o tempo perdido, a geração Z — gente que tem hoje seus 20 e poucos anos, mais ou menos — quer aproveitar cada momento com intensidade, às vezes ultrapassando limites. No rol dos novos hábitos está o de celebrar o aniversário não com uma, mas com várias festas, ao longo de diversos dias. Vingando-se dos anos em que não se podia sequer assoprar velinhas, para não espalhar o vírus da Covid-19, os festejos de agora envolvem uma meia dúzia de “parabéns” em diferentes cenários, com inúmeros grupos de amigos, em encontros que vão de noitadas agitadas até o sol raiar a piqueniques saudáveis ao pôr do sol. Reflexo desta tendência, a hashtag #birthdayweek (um nó de palavras em inglês que se traduz por semana de aniversário, em português) soma mais de 150 milhões de visualizações nas redes sociais ao redor do mundo.

Essa rotina social agitada, com muitos círculos de amizade se confraternizando, combina perfeitamente com a faixa etária dos aniversariantes seriais. Segundo uma pesquisa da Universidade de Aalto, na Finlândia, o pico de sociabilidade das pessoas se dá exatamente por volta dos 25 anos, quando cada jovem estabelece, em média, dezessete conexões significativas por mês — número que cai para treze depois dos 40 anos e despenca para sete na terceira idade. Junte-se a isso o fato de que aniversário é para ser comemorado entre amigos (nos Estados Unidos, três em cada quatro pessoas passam a data em grupo, segundo levantamento do YouGov), e está pronta a receita das festividades estendidas abraçada pelos hedonistas pós-pandemia. O estudante de relações públicas Vinícius Alves, 22 anos, não só multiplica os aniversários como organiza uma agenda que envolva todas as amizades. “Sei que é difícil acompanhar o ritmo e participar de tudo. O importante é que todos consigam comparecer a pelo menos uma das comemorações”, explica Alves, que, cariocamente, celebrou a nova idade com roda de samba, noitada em um bar e festinha convencional.

NA ESTRADA - Amanda e sua turma: em vez de festa, viagem
NA ESTRADA - Amanda e sua turma: em vez de festa, viagem (//Arquivo pessoal)

Também contribui para o embalo fracionado o fato de a geração Z ser a primeira a crescer em frente a telas e viciada em redes sociais. Nesse cenário, comemorar aniversários deixou há um bom tempo de ser um acontecimento para um punhado de convidados. Hoje em dia, cada “Parabéns a você” vira um vídeo imediatamente postado no Instagram, e o critério primordial na escolha do local, do bolo e das roupas é ser “instagramável”. “Tirar fotos para publicá-las ficou mais importante do que a festa. É como se fosse uma experiência teatral”, observa o psicólogo Cristiano Nabuco. Mas, atenção: a incansável busca por doses de dopamina e prazer, outra característica dos jovens que neste caso deságua em sucessivas festas e bebedeiras, pode render uma frustração com a rotina ordinária depois que a curtição acaba. “Quanto mais esse hormônio se faz presente no sistema de recompensa do cérebro, mais viciante é a experiência”, adverte a psiquiatra americana Anna Lembke, autora de Nação Dopamina.

Do outro lado do Save the Date, os convidados dos aniversariantes em série se sentem pressionados a marcar presença em tudo, mesmo sem vontade. A especialista em mídias sociais Ana Júlia Brandão, 22, passou por essa fase, mas agora se esforça para ser mais seletiva. “É constrangedor não ir à festa de alguém próximo. Mas não estava dando para conciliar”, explica Ana, que faz parte de um badalado círculo social. O looping de convites também pesa no bolso de quem acha que não dá para chegar a uma festa dessas de mãos abanando — sem falar na sobreposição de comemorações quando elas são divididas em vários dias. Uma pesquisa conduzida pela multinacional de finanças Credit Karma indicou que 36% dos jovens americanos dizem ter algum amigo que os leva a gastar demais, especialmente nos aniversários.

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ESCOLHAS - Ana Júlia: não dá para ir a todas
ESCOLHAS - Ana Júlia: não dá para ir a todas (//Arquivo pessoal)

Iniciada por volta de 3000 a.C., a tradição de celebrar cada ano de vida surgiu no Egito Antigo e se alastrou posteriormente entre gregos e romanos até dominar a cultura ocidental. Vez por outra é reinventada — como agora, com a multiplicação dos dias. A estudante de jornalismo Amanda Lopes, 22, usou a criatividade para reunir e aproximar sua trupe no aniversário: cada um ajustou seus compromissos e passaram oito dias viajando por São Paulo. “Meus amigos pararam tudo para estar comigo. Me senti muito especial”, resume Amanda. Problema vai ser se todos os convidados dos multianiversários resolverem retribuir na mesma moeda — não vai ter dias de folga que cheguem em 2024.

Publicado em VEJA de 12 de janeiro de 2024, edição nº 2875

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