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Extremos no altar: os vestidos pomposos e os justos brilham nos casamentos

Tendências opostas com um único intuito: a noiva sair bem na foto

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 10h29 - Publicado em 28 Maio 2023, 08h00

A imagem clássica de uma mulher prestes a se casar evoca um modelito branco, comprido e com saia rodada, no mais perfeito estilo princesa. Não que a tradição vá ser deixada de lado, mas, dentro ou fora da igreja, os vestidos passam por uma metamorfose. Faz tempo que estilistas e desfiles buscam ousar nas peças para noivas. A verdade, porém, é que na vida real o figurino não fugia muito do convencional. Isso está mudando, especialmente sob a influência das redes sociais. O look clássico, mais conservador, não é mais prioridade entre quem vai botar uma aliança no dedo.

Nas plataformas visuais, como Instagram e Pinterest, abrem-se os feeds a uma série infinita de fotos e ideias de designers e celebridades, inspirando as futuras noivas e aproximando cada vez mais o casamento do eclético universo da moda. O resultado, surpreendente, é que vestidos antes vistos apenas em passarelas ou festas de artistas agora ganham outros altares. E, já que a ideia é quebrar tradições, a tendência é partir para o 8 ou o 80, apostando em peças maximalistas, com muito volume, ou, pelo contrário, em trajes translúcidos, que deixam boa parte do corpo à mostra.

Os consultores de moda têm uma explicação para tais escolhas. Ou melhor, duas. Primeiro: depois dos tempos árduos da pandemia, com cerimônias de casamento canceladas, agora é hora de celebrar, com mais liberdade e intensidade. E é sabido que recomeços trazem quebras de paradigmas. Então por que não começar pela roupa? A segunda razão reflete um comportamento que beira à obsessão nos dias de hoje: postar fotos e, claro, compartilhá-­las. “Antes as noivas se vestiam para a família. Agora se vestem para o mundo”, diz Lethicia Bronstein, estilista que criou os modelos de atrizes como Camila Queiroz e Milena Toscano. “O vestido tem que ser o mais ‘instagramável’ possível. Muita gente vê nele uma oportunidade de aparecer.” É esquisito, mas é assim que a banda toca. E, se a regra é mostrar ao mundo todo o jeitão da noiva, nada como provocar.

CONTRASTE - 8 ou 80: princesa moderna da estilista Lethicia Bronstein (à esq.) se contrapõe ao estilo mais sexy da socialite Kourtney Kardashian e da ginasta Simone Biles (à dir.)
CONTRASTE - 8 ou 80: princesa moderna da estilista Lethicia Bronstein (à esq.) se contrapõe ao estilo mais sexy da socialite Kourtney Kardashian e da ginasta Simone Biles (à dir.) (Duo Borgatto; @kourtneykardash/instagram; @galialahav/Instagram)

E, então, de um lado brotam noivas com uma imagem dramática, ímã de cliques, ostentando saias hipervolumosas, mangas bufantes, tecidos de sobra ou tudo junto e misturado. Roupas que bebem dos anos 1980, simbolizados pelo vestido da princesa Diana, e atualizados em criações recém-desfiladas na semana de alta-costura de Paris, como mostram os estilistas Valentino e Giambattista Valli, e as obras suntuosas de Kate Halfpenny, da Halfpenny London, que brilharam na New York Bridal Fashion Week. De outro lado despontam os naked dresses, peças que usam e abusam de cortes curtos e transparentes. Eles invadiram o universo do casamento pelas mãos — ou melhor, pelas fotos publicadas e compartilhadas — de celebridades como a atleta olímpica Simone Biles, a socialite Kourtney Kardashian, que ainda dividiu todo o processo de montagem do seu vestido translúcido com seus 220 milhões de seguidores, e a herdeira do petróleo, Ivy Getty, cujo modelito assinado por John Galliano dava a ilusão de que ela estava livre, leve e nua sob um fino tecido. “Eu queria ter uma peça tão especial que se destacasse de tudo que já tinha visto antes”, disse a noiva na ocasião. Além de ousadia e sensualidade, o argumento para apelar à transparência — a despeito da opinião dos mais religiosos e conservadores — é que menos rendas sobre a pele evidenciam ainda mais a beleza feminina pelo efeito do contraste, o que, convenhamos, fica bem na foto.

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Mas cabe um toque de cautela, tanto para quem usa pouco tecido como para quem se adorna com excessos: cuidado para o vestuário não virar fantasia. “A noiva deve se vestir dela mesma, com a sua personalidade, e tem que se reconhecer nas fotos dez anos depois”, diz a estilista Camila Machado. Se o amor deve ser eterno enquanto dure, imortal mesmo, como cantou Vinicius, e cheio de curtidas, o clique da noiva no altar é truque inescapável.

Publicado em VEJA de 31 de maio de 2023, edição nº 2843

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