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“Estou seguindo o meu sonho”, diz bailarina brasileira da Ópera de Paris

Luciana Sagioro, 18 anos, saiu de casa aos 10 pela arte

Por Natalia Tiemi Hanada Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 15 mar 2025, 08h00

Minha história com a dança começou aos 3 anos, quando uma amiga da minha mãe me levou para uma aula de experiência numa escola de Juiz de Fora, em Minas Gerais. Depois de me matricular e fazer o primeiro espetáculo, percebi que estava realmente muito apaixonada por essa arte. Com o passar do tempo, pulava os níveis porque tinha aprimorado muito rápido a técnica. A explicação dos meus professores eram o meu amor e a minha determinação. O ápice foi quando decidi não ir à festa de aniversário de uma amiga: “Tenho ensaio geral”. Meus pais ficaram chocados.

Na época, fazia o método Royal, com exames anuais para saber meu grau. Aos 7 anos, alcancei 96 de 100 no teste, uma das notas mais altas do Brasil. Entendi desde muito nova que, na dança, é preciso abrir mão de muitas coisas. Fui em frente. Aos 8, decidi que queria ser bailarina profissional. Depois daquele teste, os diretores da escola de dança disseram aos meus pais que eu tinha atingido o máximo dentro das possibilidades deles. “Se ela quer mais, vai precisar buscar fora”, disseram. Fiz o exame para o Bolshoi, e recebi um não. Na época, pensei: “O Bolshoi não é para mim, mas não significa que a dança não seja”.

Naquela época, pedi aos meus pais que me matriculassem numa escola do Rio de Janeiro. A ideia era fazer a mesma escola da Mayara Magri, primeira bailarina do Royal Ballet, em Londres. Fui acompanhada de uma tutora, funcionária da família. Lembro de ter dito: “Amo vocês, mas eu estou seguindo o meu sonho”. O meu maior obstáculo sempre foi e continua sendo a saudade. Foi muito difícil ver as minhas irmãs e os meus pais em almoços de família, e eu no Rio ensaiando sozinha. Tinha 10 anos. Hoje, entendo que fiz um sacrifício maior do que eu. Mas valeu a pena, e agora sinto imensa realização pessoal.

Quando olho para trás, vejo uma história bonita, apesar dos tombos, apesar das exigências. Aos 15, passei pela última etapa de preparação técnica antes de encarar a dança como profissão, o Prix de Lausanne, considerado a Olimpíada da dança na Suíça. São mais de 3 000 candidatos do mundo e apenas setenta bailarinos são selecionados. Fui a única brasileira escolhida na seletiva da América Latina. Fiquei em terceiro lugar entre as sete melhores do mundo e esse resultado premiou todo o sacrifício. Recebi mais de oito ofertas de bolsas em companhias da Europa e dos Estados Unidos. Entre elas para a Ópera de Paris, conhecida por ser uma das melhores companhias de dança do mundo e por guardar a forma clássica. Era um lugar em que o Brasil precisava marcar território. Em um ano, fui promovida a Coryphée, e por isso posso ter papel de solista, mas as ambições continuam: quero alcançar a cada ano um novo cargo e ser a Étoile, mesmo com apenas 18 anos de idade.

Sei que vivemos no mundo moderno, do qual é inevitável fugir, mas nas redes sociais busco sempre responsabilidade. Prezo por permanecer reservada e depois compartilhar com o público. Meu Instagram também é fonte de inspiração para bailarinos que sonham e não têm apoio nem informação. O meu perfil serve para expandir mais o conhecimento sobre a arte da dança. Desde que eu cheguei, aliás, outros dois brasileiros foram admitidos.

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Sou muito grata por ver a quantidade de pessoas que sonharam comigo e por saber que hoje minha trajetória inspira outros meninos e meninas. Pouca gente conhece o que fiz, seria preciso mais divulgação. Mas quem sabe eu não abro caminhos, como outros jovens que se destacam em outras áreas? Estou escrevendo essa história para mim, para o meu país, para quem deseja ir longe. E quero estar onde ninguém acreditava que eu poderia chegar. O Brasil precisa de mais reconhecimento para o balé.

Luciana Sagioro em depoimento a Natalia Tiemi Hanada

Publicado em VEJA de 14 de março de 2025, edição nº 2935

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