Documentário contesta autoria da mais famosa foto da Guerra do Vietnã
"The Stringer" afirma que outro fotógrafo foi o responsável pela imagem da jovem fugindo de ataque de Napalm

Feito no dia 8 de junho de 1972, o registro de uma jovem nua fugindo de um ataque de napalm tornou-se uma das mais emblemáticas e poderosas sobre os horrores da Guerra do Vietnã. A fotografia, atribuída ao vietnamita naturalizado americano Nick Ut, rendeu ao fotógrafo o prêmio Pulitzer em 1973. Mas um novo documentário que acaba de estrear nos Estados Unidos contesta a autoria da imagem.
Segundo a controversa produção “The Stringer“, exibida no festival de Sundance e dirigida por Bao Nguyen, a icônica fotografia, cujo título oficial é “The Terror of War”, foi tirada por outro fotógrafo que estava no local naquele dia: Nguyen Thành Nghe, um motorista vietnamita da NBC que vendeu suas fotos para a agência Associated Press (AP) como freelancer.
O documentário baseia seu argumento em uma declaração de Carl Robinson, um ex-editor de fotos da AP em Saigon. Em 2011, Robinson entrou em contato com Gary Knight, principal pesquisador do filme, e contou sua versão. Segundo ele, seu chefe, Horst Faas, mandou ele atribuir o crédito da imagem a Ut . Consumido pela culpa, ele teria procurado Knight para contar “a verdade”.
Segundo o filme, Faas teria atribuído a imagem a Ut porque ele era o único fotógrafo oficial da AP no local. Outra hipótese é que o então chefe do setor de fotos da agência se sentiu culpado por enviar o irmão mais velho de Ut, Huynh Thanh My, para a morte em uma missão de combate para a AP em 1965. O documentário diz ainda que houve racismo no episódio. “Não creio que [a AP] teria feito isso a um fotógrafo ocidental”, diz Knight na produção. Segundo ele, os vietnamitas eram “estrangeiros em seu próprio país” e não seriam ouvidos.
A AP contesta a versão do documentário. Em um documento divulgado dias antes da estreia de “The Stringer”, a agência diz que conversou com sete testemunhas que estavam na estrada para Trảng Bàng, onde a foto foi feita, ou no escritório de Saigon, além de analisar negativos, histórias orais e uma linha do tempo dos acontecimentos. Aponta ainda que Carl Robinson não mencionou a história em seu livro de memórias, publicado em 2019.
“Nos últimos seis meses, ciente de que um filme desafiando esse registro histórico estava em produção, a AP conduziu sua própria pesquisa meticulosa, que apoia o relato histórico de que Ut era o fotógrafo. Na ausência de novas evidências convincentes do contrário, a AP não tem motivos para acreditar que outra pessoa além de Ut tirou a foto”, diz uma declaração oficial divulgada pela AP.
De acordo com a equipe responsável pelo filme, Ut não respondeu a vários pedidos de entrevista. James Hornstein, advogado de Ut, afirmou ao jornal LA Times que era “ultrajante que a VII Foundation [a empresa de Gary Knight] tenha fornecido uma plataforma para um homem que claramente está atrás de vingança há 50 anos”.