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Diamantes são eternos: exposição em Londres celebra a permanência da francesa Cartier

A grife espelhou a história dos séculos XX e XXI como sinônimo de luxo

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 13 abr 2025, 08h00

Terá sido coincidência? Talvez não. Em 1953, enquanto Marilyn Monroe celebrava os diamantes como “os melhores amigos de uma garota” em Os Homens Preferem as Loiras, a rainha Elizabeth II encomendava à francesa Cartier um broche destinado à sua coroação. Desenhado como uma delicada flor de junquilho, símbolo de recomeços, era ornado com 203 pedrinhas prateadas e uma cor-de-rosa, ao centro, de 23,6 quilates, recebida como presente de casamento, em 1947. O Williamson Diamond, como ficou conhecido, a partir do nome do geólogo canadense que descobrira uma mina na Tanzânia, atravessaria décadas como testemunha silenciosa da história.

Agora, é relíquia central de uma exposição no Victoria and Albert Museum, de Londres, simplesmente intitulada Cartier. É uma joia. Com 350 preciosidades, a mostra celebra a aventura da mítica joalheria da perspectiva da filial britânica, criada em 1902, depois que membros da família decidiram expandir o negócio de Paris para Londres e Nova York. Fazem parte do acervo, além do tesouro da rainha da Inglaterra, o broche de rosa, de 1938, da princesa Margareth; o broche Panthère, de 1949, do duque de Windsor; e o anel de noivado de 10,48 quilates da atriz Grace Kelly. Não há dúvida: são eternos e traduzem o passar do tempo, no estilo e na relevância de quem os levou ao colo, aos dedos e pulsos.

PELA FAMÍLIA - A princesa Margaret com o broche de diamantes de 1938, em formato de rosa: na coroação da irmã
PELA FAMÍLIA – A princesa Margaret com o broche de diamantes de 1938, em formato de rosa: na coroação da irmã (Fotos Keystone Press/Alamy/Fotoarena; Cartier/.)

A exibição do V&A tem um claro recado: a Cartier soube acompanhar as transformações culturais sem perder a essência. Celebrem-se, portanto, as tiaras aristocráticas do início do século XX, como a Manchester, de 1903, cravejada com mais de 1 000 diamantes. Aplausos para o colar de jade birmanês, rubis e ouro, de verde estonteante. Festa para a tiara em guirlanda que Clementine Churchill, mulher do premiê Winston, usou na entronização de Elizabeth II e que Rihanna — sim, Rihanna — levaria a uma capa de revista em 2016. Um elemento exposto com iluminação teatral pode servir de sinônimo do trabalho desenvolvido pelos Cartier há quase 180 anos (a casa foi fundada em 1847): um relógio de safira e ouro, o Crash, desconstruído como os do surrealismo de Salvador Dalí, indício de que os ponteiros pouco importam quando se trata de algo perene. “Os objetos da Cartier são como uma paisagem de sonho, em que arte e ciência convergem”, diz Asif Khan, designer da exposição. Eis uma boa definição, fruto do casamento da beleza com a precisão na manipulação de produtos indizíveis.

Sim, pode haver um quê de exagero, um tantinho de propaganda, atalho para multiplicar as vendas da marca hoje em dia, mas há um outro modo de enxergar a Cartier: é um mito de nosso tempo, retrato de uma época em que o luxo era celebrado como troféu. Hoje, já não é mais assim, e quando nomes como Rihanna põem uma tiara riquíssima na cabeça estão apenas fazendo referência ao que passou, em piscadela a um só tempo irônica e de homenagem a manufaturas que nem mesmo valor estimado têm.

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LAPIDAR - Grace Kelly, logo antes de viver um conto de fadas em Mônaco: e quem prestaria atenção nos dedos da atriz?
LAPIDAR - Grace Kelly, logo antes de viver um conto de fadas em Mônaco: e quem prestaria atenção nos dedos da atriz? (Fotos MGM/Collection ChristopheL/AFP; Cartier/.)

Afinal de contas, quando se trata de embelezar o corpo com produtos da “joalheira dos reis e rainha das joalherias”, os diamantes não são apenas os melhores amigos — são companheiros a marcar o poder, o status e as mudanças culturais, em brilho imutável. A inspiração, de geração para geração, ainda que o espanto original possa ser interpretado hoje como ironia, bebe de uma frase de Louis Cartier (1875-1942): “Nunca imite, sempre inove”. Eis um bom conselho para a vida.

Publicado em VEJA de 11 de abril de 2025, edição nº 2939

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