Destilaria brasileira explora o universo dos destilados à base de uvas
A Alba, do Rio Grande do Sul, chama a atenção pelos rótulos produzidos de forma artesanal com técnicas e equipamentos fora do habitual
No vibrante cenário dos destilados brasileiros, conhecido principalmente pela cachaça e, mais recentemente, por conta do gim, a Alba, de Monte Belo do Sul, no Rio Grande do Sul, se destaca pela proposta única de produzir bebidas a partir de métodos verdadeiramente artesanais. Seu portfólio, ainda pequeno, acaba de chegar ao mercado em tiragens limitadas e chama a atenção por oferecer alguns produtos únicos.
A ideia surgiu da vontade de Pedro Rosa Paiva e sua mulher, Rosana Cavalieri, de produzir destilados de fruta diferentes do que é oferecido no Brasil. Para isso, começaram usando matéria-prima local. “Fizemos os primeiros destilados com uvas de vinhedos próprios”, contou Pedro no evento de apresentação das primeiras garrafas, feita na Enoteca Saint VinSaint, em São Paulo. Depois, foi em busca de uvas de regiões específicas, como a chardonnay de Encruzilhada do Sul, cidade próxima a Monte Belo do Sul.
Para a fermentação, o estágio inicial da produção de qualquer destilado, são usadas apenas leveduras selvagens, e o processo é lento. Em média, a uva fica 15 dias fermentando. “Mexemos o mosto duas a três vezes ao dia e escolhemos o momento de interromper a fermentação e colocar as uvas no alambique. Essa é uma das partes autorais do processo”, diz.
O equipamento de destilação usado pela Alba também foi desenvolvido por Pedro. Trata-se de um alambique por banho maria aquecido a lenha. O processo também é mais lento, pois a temperatura máxima alcançada não é tão elevada quanto em outros alambiques. “Dessa forma, a matéria-prima se sente à vontade para se expressar. Embora soe poético, é a realidade. Abrem-se aromas que não seriam percebidos de outra forma”, diz Pedro. Além disso, a coluna do alambique, com cinco pratos, consegue extrair vapores alcoólicos mais agressivos e o resultado é uma bebida mais suave, mesmo com alto teor de álcool.
Depois da destilação, o teor alcoólico é controlado a partir do acréscimo de água. Esse é outro processo autoral, que permite que controlar a potência alcóolica da bebida, bem como seus aromas. Todos são envasados com ao menos 43% para que mantenham a limpidez sem a necessidade de realizar uma filtragem.
O portfólio atual conta com cinco rótulos. São duas eau de vie, nome em francês que significa “água da vida” e é usado para destilados de fruta. Uma é produzida com uva Moscato, e oferece aromas de papaia e flor de laranjeira, e outra com Lorena, com aromas de pêssego e tangerina. A proposta é não manter um padrão e a cada “tiragem” das garrafas, safradas e numeradas, expressar o que aquela safra trouxe em termos sensoriais. Há ainda um brandy, destilado de vinho feito com chardonnay e pinot noir, que remete ao caramelo de whiskies e a maçã, e ainda duas grappas, destilados feitos do bagaço de uvas. Uma é produzida com chardonnay, com aromas florais e de melado, e outra, com gamay, com aromas complexos amadeirados e de frutas vermelhas – esta, limitada a 80 garrafas, já está esgotada.
Há muito mais pela frente. A Alba pretende lançar algumas cachaças feitas com cana-de-açúcar de diferentes terroirs, fermentadas por mais de 40 dias para extrair o máximo de aromas. Tudo sempre em pequenas tiragens. “É um trabalho que quase não se viabiliza financeiramente pela escala minúscula”, diz Pedro. Ele revela que alguns dos produtos dessa primeira leva representam os primeiros cadastros do tipo no Ministério da Agricultura. E isso já é um motivo para celebrar.
No Instagram da Alba é possível encontrar uma lista de pontos de venda ou fazer um pedido diretamente à destilaria.