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Dentro e fora das telas: o grande momento do paraense Rog Vasques na moda

Depois de trabalhar em Paris com Karl Lagerfeld, o estilista volta ao Brasil para conquistar famosas e mulheres comuns com suas peças modeladas em couro

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 ago 2024, 18h57 - Publicado em 11 ago 2024, 08h00

Foi um trabalho de formiguinha. Enquanto marcas desapareciam do mercado e eventos do universo fashion perdiam o glamour, um estilista inaugurava, em 2014, um pequeno ateliê, sem nenhum luxo, no bairro nobre dos Jardins, em São Paulo, e passava a vender roupas modeladas em couro, material naturalmente difícil de dar caimento. De peça em peça e cliente em cliente, o reconhecimento e a projeção vieram. Uma década depois, as roupas do paraense Rog Vasques, 46 anos, passaram a vestir famosos, viraram figurinos de novelas e, mais recentemente, ganharam o cinema. Vasques assina o vestuário do aguardado O Auto da Compadecida 2, filme que estreia no fim deste ano, com seus vestidos e jaquetas que parecem esculpidos e costurados diretamente no corpo.

O estilista caiu no gosto de artistas e produtores. Seu primeiro trabalho na TV ocorreu em Verdades Secretas, da Globo, em 2015. “Um amigo comentou sobre as minhas criações com a figurinista, que me procurou”, afirma. Logo na sequência, começou a receber pedidos para desenvolver os trajes dos personagens. Em O Tempo Não Para, de 2019, elaborou as roupas de época que expressavam uma mulher à frente de seu tempo para a protagonista Juliana Paiva. As saias compridas e os espartilhos de couro fizeram sucesso. E, a cada nova produção, Vasques mergulhava numa pesquisa diferente, que incluía a identidade dos retratados na trama.

Para fazer o macacão e as luvas de Rosinha, interpretada por Virginia Cavendish em O Auto da Compadecida 2, o designer seguiu passos típicos da alta-costura. Tirou as medidas da atriz para recortar um molde em algodão, exclusivo para prova. “Foram três sessões só para ajustá-lo ao corpo”, diz Cavendish. Só depois dessa etapa veio a modelagem em chamois, aquele tipo de couro recoberto por uma leve pelagem. O processo impressionou a atriz, que virou cliente e amiga. Marieta Severo foi outra estrela que se encantou com as roupas, tanto que apareceu com uma delas em público, o que rendeu ao paraense mais pedidos de famosas. Até os homens vão atrás, para encomendar tanto um paletó como um colete de couro, como o exibido por Lima Duarte em mais uma novela no currículo de Vasques, O Outro Lado do Paraíso.

FILA DE CLIENTES - Rog Vasques: “Tenho problema só com as ativistas”
FILA DE CLIENTES - Rog Vasques: “Tenho problema só com as ativistas” (./Divulgação)

A propaganda, feita no boca a boca, é a melhor referência que o profissional pode ter. “O acabamento dele é primoroso”, afirma a advogada Ana Fábia Ferraz Martins, que o conheceu em Curitiba em uma loja parceira. O trabalho do estilista teve forte influência de um gigante da moda. Antes de começar seu negócio, Vasques trabalhou em Paris com o alemão Karl Lagerfeld, no período de 2007 a 2011. Foi assim que aprendeu os diferenciais da alta-costura. O capricho envolve até o avesso da roupa. Não existem linhas soltas, arremates ou traços desalinhados. O brasileiro usa justamente o acabamento interior para dar identidade à sua marca, a Maison Revolta.

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Todas as peças de couro têm forro de tule na cor pink. Ao dar uma cara diferente ao avesso do traje, Vasques faz com que a grife seja reconhecida, do mesmo modo que os sapatos Louboutin chamam a atenção pela sola vermelha. Mas não se trata só de marketing: o tule tem elasticidade, propriedade que facilita a adaptação do couro no corpo. Em geral, nas confecções convencionais, o avesso das roupas é feito de cetim, material nobre, mas nada maleável. “Com isso, Rog Vasques consegue trazer contemporaneidade e valorizar a curva da mulher”, diz Lucio Fonseca, stylist e consultor criativo.

Na loja da Maison Revolta, longe do clima de novela ou cinema, o paraense recebe turistas que vão a São Paulo a negócios. São mulheres comuns, com medidas muitas vezes avantajadas. Ele atende pessoalmente cada uma delas e ajusta as peças de acordo com as preferências das clientes. “Tenho problema só com as ativistas, que entram aqui protestando contra o uso do couro”, diz. Apesar dos olhares atravessados, ele garante que o material é certificado. Na moda, é difícil agradar a todo mundo.

Publicado em VEJA de 9 de agosto de 2024, edição nº 2905

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