Como Michelle Obama transformou seu modo de vestir em um poderoso canal de influência
A trajetória é narrada no livro The Look, lançado recentemente
Na Casa Branca, de 2009 a 2017, Michelle Obama redefiniu o papel de primeira-dama dos Estados Unidos. Ela transformou a tradicional figura passiva ao liderar um movimento contra a obesidade infantil e um programa para promover o acesso de meninas adolescentes de regiões mais pobres à universidade. Carismática, foi muito mais do que a mulher de Barack Obama e mãe de duas filhas.
Ela se expressava em conversas e discursos, é claro, mas também por meio da moda. Cada peça, cor e corte refletiam diversidade, um jeito de comentar o cotidiano e deixar claro que toda mulher pode se vestir como quiser, a depender das situações. É trajetória narrada no livro The Look, lançado recentemente. Com mais de 200 fotografias, o volume passeia pela evolução do estilo de Michelle.
Há relatos extraordinários, como a decisão de escolher um vestido de Jason Wu, estilista iniciante, para valorizar novos nomes no mundo da moda. Há detalhes da transformação de seu estilo do primeiro para o segundo mandato de Obama. No início, ela decidiu se afastar de conversas sobre estilo e aparência, temendo que isso se tornasse uma distração. Depois, entendeu que poderia fazer de seu guarda-roupa um canal para conversas sobre poder e imagem pública. No livro, o leitor tem acesso aos bastidores desse diálogo visual e descobre como Michelle e sua equipe — a estilista Meredith Koop, o maquiador Carl Ray e os cabeleireiros Yene Damtew, Johnny Wright e Njeri Radway — pensavam cada visual: uma criação do americano radicado em Londres Tom Ford para uma visita de Estado à Grã-Bretanha; um vestido da Versace para um jantar na Itália. Apesar de tudo, ela teve de enfrentar episódios como as críticas racistas dos opositores aos vestidos sem mangas, que exibiam braços tonificados.
A mudança mais radical, contudo, ocorreu ao deixar o papel de primeira-dama. Então, aos 61 anos, declarou sentir-se “mais vibrante do que nunca” e “com mais confiança e menos preocupação com a opinião dos outros”. A fase mais livre, digamos assim, autorizou a adoção de um estilo mais casual, dando adeus aos vestidos e cardigãs e boas-vindas ao tempo de experimentações emolduradas por cabelos lindamente trançados. Em uma ocasião, vestiu botas Balenciaga de cano alto cintilantes, algo que não faria estando no poder, pois o calçado teria “dominado” a conversa.
O impacto de Michelle na moda é frequentemente comparado ao de Jacqueline Kennedy, mas há diferenças. No início dos anos 1960, Jackie era o exemplo de refinamento e formalidade clássica. A companheira de Obama, retrato de nosso tempo, precisava ter uma pegada que já foi definida como “pós-feminista”, ao usar shorts no Grand Canyon e blusas sem mangas no Congresso. Chamou a atenção e com firmeza disse a que veio — mas talvez não tenha conseguido, de fato, mover moinhos. Na semana passada, instada a dizer se sua passagem por Washington representou um novo tempo, a passarela aberta a ares renovados, ela foi cautelosa, em tom de decepção. Ao lembrar das derrotas recentes de Hillary Clinton e Kamala Harris, ambas vencidas nas urnas por Donald Trump, ela resumiu: “Os Estados Unidos não estão preparados para uma presidente mulher”. É verdade. Um modo de pavimentar o terreno, enquanto não chega a hora, é fazer dos figurinos um grito de liberdade.
Publicado em VEJA de 21 de novembro de 2025, edição nº 2971
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