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Assinatura facilita acesso a novos veículos

Nova modalidade de locação vira tendência e dobra de volume nos últimos dois anos; segmento de importados ganha destaque

Por Valéria França Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 7 Maio 2024, 17h09 - Publicado em 20 fev 2024, 09h10

Entre alugar ou comprar um automóvel, qual o melhor negócio? Essa dúvida tornou-se mais frequente depois do surgimento da assinatura de carros, um novo tipo de locação, que virou tendência entre os consumidores, a ponto de nos últimos dois anos, o número de contratos fechados ter dobrado de volume, de acordo com a Associação Brasileira de Locação de Automóveis (Abla). Desenvolvida especialmente para pessoas físicas usarem o carro por mais de um ano, a assinatura começou a engatinhar no país em 2015. Até então o usuário que desejava um contrato de longo prazo tinha de se contentar com o leasing, um sistema ainda em voga, onde o consumidor arca com a mensalidade e todos os custos operacionais do carro, com a opção da compra do veículo no fim do contrato. Já na assinatura, todos os encargos – dos impostos à manutenção mecânica – são de responsabilidade da locadora. Mas só algumas empresas abrem a oportunidade de compra.

A lista de encargos de um automóvel, de fato, é grande. O consumidor tem de pagar anualmente o Imposto Sobre Propriedade de Veículos Automotivos (IPVA), que corresponde de 1% a 4% do valor do veículo, dependendo do estado onde esteja registrado, e do seguro contra roubo, que sai em torno de 6,6%. Isso sem contar as revisões e problemas mecânicos que podem surgir. Fora isso o negócio entrega certas comodidades. As empresas, em geral, procuram o carro que o consumidor deseja e leva na casa do contratante, já emplacado e com todos os assessórios pedidos. “O meu carro chegou de caminhão cegonha, com tudo pronto. Um sonho mesmo”, disse Danilo Teles, administrador de empresas, que assinou um T-Cross.

Pai de primeira viagem, ele não queria empatar todo o capital disponível na entrada do carro, mas precisava de um veículo capaz de transportar a família aumentada e o carrinho do bebê. Para não ficar descapitalizado, aplicou o dinheiro que tinha para dar de entrada no carro e optou pela assinatura. No fim de 36 meses, ele terá pago R$ 120.323 em mensalidades. Se fosse comprar o veículo financiado, teria que dar uma entrada R$ 67,5 mil, que somadas às parcelas ao longo de 3 anos, resultaria em um total de R$ 231,5 mil. Ainda seria necessário adquirir o seguro, que sai cerca de R$ 10,5 mil, e com o IPVA, R$ 19,5 mil, somas que elevam os gastos da aquisição a prazo para R$ 261,5 mil.

Especialistas calculam que a depreciação do valor de venda de um automóvel gira em torno de 10% ao ano. O T-Cross custa à vista em média R$ 164,5 mil. Aplicado o índice de desvalorização, estima-se que o valor de venda depois de três anos de uso será de R$ 115.150. “A assinatura só se justifica quando não há o dinheiro para a compra ou existe um destino para o capital, como aplicar em um negócio próprio”, diz Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos automotivos da Fundação Getulio Vagas (FGV) de São Paulo.

É justamente a diminuição do poder aquisitivo da população e a alta dos preços dos automóveis que deu espaço para o crescimento da assinatura. Hoje os modelos mais baratos do mercado custam por volta de R$ 70 mil. E nessa faixa, há apenas dois tipos – o Kwid e o Mob. “Não existe mais o carro popular do passado, sem itens de segurança e conectividade”, analisa Martins. Essa tecnologia embarcada encareceu o produto final. Além disso, desde o início da pandemia até 2022, o brasileiro teve de lidar com a inflação de dois dígitos. Consequentemente, os juros do financiamento de veículos também subiram. No ano passado, ficou em torno de 0,90% e 3,90% ao mês, segundo o Banco Central. Outro facilitador da assinatura é o contrato ser feito diretamente com a locadora – e não com o banco –, que é menos rígida no que se refere às comprovações de renda.

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Nesse ambiente econômico, o setor de locação, que inclui o de assinaturas, foi responsável pela compra de 50% da frota das montadoras em 2023. Desse total, apenas 5% foram direcionados para pessoa física. A locação virou uma via de escoamento da produção tão significativa, que até mesmo as fábricas enxergaram o potencial de crescimento do negócio e abriram canais diretos para o consumidor, como a Fiat, a Volkswagen, a Toyota e a Renault, abrindo concorrência direta com as locadoras. As empresas fazem sigilo das marcas mais pedidas, mas revelam que as SUVs estão na preferência dos brasileiros.

Outro destaque é o segmento de importado que cresce nessa categoria. “Esse tipo de veículo tem custos de manutenção e impostos maiores, além de maior depreciação de valor no mercado, quando comparado ao veículo comum”, diz Glauco Zebral, diretor do segmento de gestão e vendas da Meeo Localiza. Para atrair o público de alta renda, as empresas capricham no pacote de mimos. Inaugurada há pouco mais de três anos, a For You Feet, por exemplo, oferece concierge, gestão de multas, telemetria e rastreamento. Há empresas que enviam champanhe no dia do aniversário do cliente. O tratamento VIP é um estímulo para os amantes dos importados, que ainda não possuem estofo financeiro para aquisição de uma BMW X1, por exemplo, entrar nesse mercado. E das montadoras expandirem as vendas.

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