Arqueólogos encontram milhares de oferendas para deusas gregas
Ministério da Cultura da Grécia anunciou a descoberta de mais de 2 mil estatuetas em tributo a Deméter e Perséfone na Ilha de Kythnos
O repertório ritualístico e o panteão de deuses gregos atraem nossa atenção até hoje, com sua mitologia repleta de personagens complexos e narrativas cheias de reveses. Mais interessante, porém, é quando vestígios desse universo são encontrados e nos trazem novas perspectivas sobre a religiosidade do povo mediterrâneo. É o caso de uma recente escavação em uma colina na ilha de Kythnos, no Mar Egeu, onde arqueólogos descobriram um santuário repleto de oferendas deixadas por antigos adoradores dos deuses gregos ao longo dos séculos.
O achado foi anunciado pelo Ministério da Cultura da Grécia que, em comunicado, disse ter sido encontradas mais de 2 mil estatuetas de argila. Como a sorte parece ter beneficiado a descoberta, os itens estavam intactos ou, no pior dos cenários, quase completos. A maioria das peças retratava mulheres ou crianças, mas havia alguns elementos masculinos. Também havia representações de animais, como leões, porcos, tartarugas e pássaros. Além das pequenas estátuas, também havia vasos cerimoniais de cerâmica que podem ser associados à adoração da deusa grega da agricultura, Deméter, e sua filha Perséfone, a quem o santuário escavado foi dedicado.
O local onde o santuário foi construído teria sido habitado ininterruptamente do século 12 a.C até o século 7 d.C, quando os constantes ataques piratas obrigaram os moradores a buscarem por regiões mais seguras. O templo foi construído na beira do mar de Vryokastro, antiga capital da ilha de Kythnos. Ainda não está claro se o local estava associado a Eleusius, um dos centros religiosos mais importantes da Grécia Antiga, onde deusas eram adoradas em rituais secretos, permitidos apenas para iniciados que eram proibidos de compartilhar o que viam.
A ilha de Kythnos faz parte do arquipélago das Cíclades, e foi habitada pela primeira vez há aproximadamente 10 mil anos. A região possuía importantes jazidas de cobre, que foram exploradas desde o terceiro milênio a.C. Durante a ascensão do Império Romano, o local foi usado como exílio político. Além disso, sabe-se que o santuário de Eleusius tinha terras no local, daí o questionamento se o templo dedicado a Perséfone poderia ser parte do centro religioso.
Os artefatos recém-descobertos vieram das ruínas de dois sítios arqueológicos: um longo edifício que pode ter servido como depósito do templo principal e um poço, onde oferendas antigas foram enterradas para dar espaço para novos presentes. O santuário permaneceu em uso por cerca de mil anos. Além dos itens elencados anteriormente, a escavação feita em parceria entre o Ministério da Cultura e a Universidade de Tessália encontrou cerâmicas de luxo importadas de outras partes da Grécia, lâmpadas ornamentadas e fragmentos de vasos rituais dedicados a Deméter e Perséfone. Este inestimável acervo pode ser ainda maior, por isso as escavações devem continuar até 2025.