Alta executiva de joias, brasileira traz diamantes do mundo para o Brasil
Presidente da Mubri, maior associação de joalheiros do mundo, Ali Pastorini promove a BSM Brasil, encontro entre líderes globais com empresas nacionais
Marilyn Monroe (1926-1962) não estava errada quando disse que os diamantes são os melhores amigos das mulheres em sua inesquecível performance no filme Os Homens Preferem as Loiras, de 1953. Elizabeth Taylor (1932-2011) se casou oito vezes, mas não escondia que seu verdadeiro amor eram as joias. A mais famosa imagem de Audrey Hepburn (1929-1993) traz a atriz ostentando o diamante Tiffany, ícone da Tiffany & Co, de valor incalculável, e que depois foi usado por Lady Gaga e Beyoncé.
São muitas as histórias em que essas preciosidades se confundem às estrelas do cinema e da música, mas, até chegarem aos colos, braços e dedos dessas beldades, tiveram que percorrer um caminho, que começa muito antes dessas memoráveis aparições e, claro, do que se vê nas vitrines de marcas como a Cartier, Tiffany & Co, Bulgari, Pandora, Vivara: com os fornecedores de diamantes, pedras preciosas, ouro e outros materiais. Aí entram negócios como o BSM (Buyer Seller Meeting), que já acontece em lugares como Dubai, Barcelona, Índia e Arábia Saudita, e que agora chega ao Brasil, com um evento de dois dias – 14 e 15 de maio – no Hotel Renaissance, em São Paulo, para aproximar grandes empresas internacionais, líderes do setor de diamantes, metais preciosos e fabricantes de joias em ouro e prata aos empresários brasileiros do setor.
Organizado pela Mubri Internacional, principal associação de joalheiros do mundo, o meeting foi idealizado pela brasileira Ali Pastorini, presidente internacional da entidade, que começou em 2016, para apoiar as mulheres a avançar e se desenvolver profissionalmente para cargos executivos do setor e que, atualmente conta mais de 2500 associados, entre atacadistas e varejistas, sendo a própria Ali, de 42 anos, um dos nomes globais mais importantes do setor de joias e diamantes.
A seguir, Ali conta a VEJA como chegou lá e fala sobre o encontro que deve movimentar o ramo joalheiro no Brasil na próxima semana.
Como uma mulher jovem e latina conseguiu alcançar um cargo de alta liderança no setor de diamantes, antes dominado apenas por homens com mais de 50 anos?
Sempre fui apaixonada por joias, desde a infância, quando meu pai me presenteava a cada aniversário, mesmo que fosse com uma peça simples. Chegou um momento em que não encontrava mais o design que queria e comecei a criar com uma amiga, que hoje é minha sócia. As pessoas demonstravam interesse em comprar as peças. Na época, eu era diretora de marketing de uma empresa de eventos desportivos nos Estados Unidos, mas encarei esse novo desafio e, em 2012, lancei a Del Lima, uma marca de joias femininas. Por conta disso, comecei a palestrar mundo afora, quando fui convidada a prestar consultoria para a bolsa de diamantes do Panamá, a fim de ajudá-los com os mercados da América do Sul e Central. De consultora, passei a diretora até chegar a vice-presidente, eleita internamente entre as 110 empresas que compõem as bolsas de diamantes no mundo. É um dos cargos mais cobiçados do setor, em que sou a primeira e a única mulher.
E como surgiu a Mubri, da qual é presidente, e a BSM Brasil?
Com toda essa projeção mundial que ganhei, fundei a Mubri para ajudar mulheres a se desenvolverem e alcançarem esses cargos executivos e de liderança do setor. Cresceu muito e hoje somos a maior associação de joalheiros em termos de números de associados: 2500, com mulheres e homens, que também quiseram entrar e, claro, aceitamos de bom grado. Já a BSM é um encontro entre vendedores e compradores de joias, diamantes e pedras preciosas, que comecei a fazer em 2021, em Dubai. Com a resposta positiva, fomos para outros lugares como Barcelona e agora, aqui no Brasil. Em 2025, também vamos fazer no México e Canadá. São os fabricantes de diamantes, joias, barras de ouro, prata e pedras preciosas, que fornecem para empresas como a Cartier, Tiffany e grandes cadeias, que vem para conhecer o mercado brasileiro.
Mas o que diferencia de uma feira?
No BSM, os expositores encontram os seus clientes reais. Nas feiras de joias, por serem muito grandes e terem um número enorme de expositores, muitas vezes não conseguem conhecer nem o produto, nem a capacidade e estrutura das empresas expositoras – acabam tendo que escolher, e geralmente ganham as empresas bem localizadas dentro da feita, o que é injusto. Diferente do BSM, onde o comprador tem a oportunidade de conhecer absolutamente tudo, de uma maneira muito mais tranquila e eficiente, aumentando não só a qualidade da visita, mas abrindo possibilidade de negócios bilaterais.
E por que resolveu fazer no Brasil?
Eu me preocupo muito em trazer qualidade e para o Brasil não seria diferente, afinal de contas é o meu país. Sei que assim, os empresários brasileiros vão realmente se sentir seguros em fazer negócios. É um projeto que está fazendo muito sucesso mundo afora. Produtos de alta qualidade, com gente séria e responsável, para elevar o nível do nosso país. E o consumidor final acaba ganhando porque a joia que ele comprar para usar ou como investimento vai ser de primeiríssima qualidade.
Quantas empresas estarão no BSM?
Serão 25 empresas líderes mundiais dos Estados Unidos, Bélgica, Turquia, Índia e Hong Kong para conhecer os empresários brasileiros, tanto varejistas quanto atacadistas, que terão acesso a essas novidades, às novas tecnologias.
Como sabe que realmente dará certo?
Sou muito pé no chão, estudo os mercados e não deslumbro. E é interessante como as empresas estrangeiras estão interessadas em apostar no mercado brasileiro. Fico muito orgulhosa de poder, junto com a minha equipe, oferecer isso ao nosso país. Espero que saiam ótimas negociações e muitos bons frutos como a geração de empregos e investimento no país.
Ainda tem a sua marca de joias?
Sim, a Del Lima está em oito pontos ao redor do mundo. Depois de muitos acertos e erros, que vejo como aprendizados, a marca expandiu muito. A gente investe em um design mais arquitetônico nos mercados americano e europeu, e em joias mais pesadas para Dubai, por exemplo. Mas são todas joias de ouro 18 quilates e com pelo menos um ponto de diamante, porque achamos que toda mulher tem que ter um diamante, mesmo que seja pequeno dentro da peça.
Marilyn Monroe estava certa então?
Com absoluta certeza. Um diamante jamais vai decepcionar uma mulher.
Nem os cultivados em laboratório? Qual a diferença?
Claro que não. Sabe que há uns 5 anos, eu diria que o diamante cultivado tinha uma qualidade inferior, mas, hoje em dia, evoluíram muito e são equivalentes aos diamantes naturais em termos de qualidade, claridade e transparência. A diferença é o preço, já que os cultivados são mais baratos na hora de comercializar. Também difere o público: pessoas acima de 35 anos, que geralmente estão buscando o investimento, tendem para o diamante natural, enquanto os cultivados em laboratório pegam mais os mais jovens, da geração Z, principalmente. Mas podem coexistir tranquilamente porque tem mercado para todos.
Mas os cultivados são mais sustentáveis mesmo? Agridem menos o meio ambiente?
A gente tem que tomar muito cuidado com essa questão de agredir o meio ambiente, porque há casos e casos. Eu conheço minas ao redor do mundo, que fazem a exploração do diamante natural de forma muito correta e sustentável. Mas também tem minas clandestinas que fazem o oposto, com trabalho escravo, inclusive. Então não podemos colocar a sujeira embaixo do tapete, mas também temos que tomar muito cuidado para jamais generalizar.