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Quem é você, adolescente?

As eternas (e novas) dores e delícias de ser jovem

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jun 2024, 16h35 - Publicado em 28 abr 2024, 08h00

Romeu e Julieta eram adolescentes, como tão bem mostrou Zefirelli no cinema. Verdade: a intensidade de seus sentimentos só poderia ocorrer na adolescência. Um adulto pensaria duas vezes em atitudes tão radicais quanto o suicídio por amor. Até mesmo desconfiaria do próprio amor. “Será que eu gosto mesmo dela? Ou dele?” — pensaria Romeu. “Mas ele nem passou no Enem”, refletiria uma Julieta contemporânea e cautelosa. O limbo que existe entre a infância e a fase adulta, é disso que estou falando. Você não é mais criança para ganhar festas temáticas com balões. Ao mesmo tempo, não costuma ter as obrigações da vida adulta. Mas é claro que estou falando de um recorte da sociedade, da classe média em diante. É uma fase terrível. O adolescente não sabe quem é, os pais não sabem como agir diante de tantas angústias e tensões. Inclusive, na medicina surgiu uma especialidade para dar conta desse período: o hebiatra. Antes, os sofridos adolescentes eram obrigados a esperar a consulta em salas de pediatras com ursinhos, joguinhos e crianças chorando. Justo eles, que já se consideravam adultos e aguardavam a data de tirar carteira de motorista! É um momento de definições: escolher uma faculdade, por exemplo, é um martírio. Pior: na maioria das vezes, o adolescente pouco sabe da profissão que está escolhendo ao se inscrever no vestibular; fugir dos estudos para entrar num mosteiro; ou arrumar um emprego e já despencar no mercado de trabalho. Os hormônios estão explodindo. Frequentemente, as espinhas também. Há grandes paixões no ar, mas pode ser difícil realizá-las sem um cantinho só seu. Alguns vivem sua grande história de amor na intimidade do cinema — ou até mesmo no toalete de uma festa.

“A nova geração está acostumada a dar unfollow se algo lhe desagrada. Só que não pode deletar os pais”

A que grupo pertencer: o da frente da sala, do meio ou do fundão? Cada escolha é um universo que se abre. Os pais que se segurem. Dizer não para um adolescente da época digital pode ser muito difícil. A nova geração está acostumada a dar unfollow quando algo lhe desagrada. Só que não pode deletar os pais. Portas batem.

Os pais projetam sonhos que não realizaram. Os filhos, muitas vezes, só acham que eles são chatos.

– Pai, posso fazer isso?

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– Pergunta pra sua mãe.

– Mãe, posso fazer aquilo?

– Pergunta pro seu pai.

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O adolescente é um ser sensível, mesmo quando age como um pit bull. Mas cada época tem seu DNA. Na minha, eu pensava que ia mudar o mundo. Hoje, realmente o mundo mudou para os adolescentes que estão por aí. Não é fácil construir uma vida no universo digital. Existir fisicamente, no metaverso, conviver com a IA, e correr o risco de ver um robô roubar seu futuro emprego é de arrasar.

Os desafios da minha adolescência eram outros: me posicionar contra o regime militar, aprender inglês, e não perder nem uma passeata. Na adolescência, a gente pode votar. É uma grande responsabilidade das muitas que desabam. Mais que tudo, o jovem precisa descobrir quem é e como será. E isso só se faz no caminho, que pode ser difícil. Mas um dia todos nós descobrimos que o caminho é a melhor parte da vida.

Publicado em VEJA de 26 de abril de 2024, edição nº 2890

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