Avatar do usuário logado
Usuário
OLÁ, Usuário
Ícone de fechar alerta de notificações
Avatar do usuário logado
Usuário

Usuário

email@usuario.com.br
Super BlackFriday: Assine VEJA a partir de 7,99
Imagem Blog

Walcyr Carrasco

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO

Meus livros, meu tesouro

Como a leitura nos leva para outros mundos e outras emoções

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 9 nov 2025, 08h00

No final de meu primeiro ano escolar, em um colégio público, tive boas notas e a professora me presenteou com um livro. Era Simbad, o Marujo, e eu li, gostei e nunca esqueci. Minha família não tinha o hábito da leitura. Meu pai, ferroviário, minha mãe, comerciante e dona de casa. Foi uma surpresa quando descobriram que havia um menino diferente na família. Um garoto que gostava de ler. E que, no aniversário, queria livros de presente. Sabiamente, me deram, a partir dali, todas as obras que podiam. Não eram muitas, porque o dinheiro era escasso. Mas todo mês eu tinha direito a comprar um novo exemplar. Descobri também a biblioteca pública e me tornei freguês! Assim, não me faltaram livros para ler.

Houve momentos de escândalo, como quando emprestei da vizinha os volumes das Mil e Uma Noites. Eram livros ricamente encadernados, que ela comprara para enfeitar a sala. Mas era, digamos, uma versão adulta, com detalhes hard core. Minha mãe descobriu (de repente meu interesse pela leitura tornou-se excessivo), proibiu-­me de continuar a ler. Mas, para minha surpresa, em breve ela e as amigas trocavam os livros entre si, com risinhos escandalizados. Foi a primeira vez que senti, realmente, uma imensa revolta juvenil.

“Amar as obras me formou como pessoa, pavimentou meu caminho para a vida”

Minha paixão pelos livros começou quando emprestei Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato, de uma amiga. Hoje, o escritor é muito criticado pela maneira como trata o personagem de Tia Nastácia, sem dúvida racista. Mas devo muito a ele. Foi após a primeira leitura de Reinações que eu anunciei: “Quero ser escritor!”. A família me avisou que a profissão era insegura, “melhor prestar concurso público”. Mas eu tinha definido, já aos 11 anos, qual seria meu futuro: escrever! Amar os livros me formou como pessoa, pavimentou meu caminho para a vida. Mas há um segredo.

Hoje em dia se fala muito em como incentivar crianças e jovens a ler. Acho que uma boa maneira é se espelhar no meu caminho. Como meus pais não eram grandes intelectuais, nem viviam agarrados a teorias sobre educação, simplesmente me deixavam ler o que eu quisesse — exceto pelo escândalo das Mil e Uma Noites, mas foi exceção. Então, para mim, a leitura transformou-se em uma diversão, uma maneira de viver aventuras com as quais nem sonhava, conhecer mundos diferentes, sentir emoções de personagens distantes de meu cotidiano de garoto do interior de São Paulo. A leitura só me fez crescer como pessoa e me formou como indivíduo. Principalmente, me fez pensar. Existe melhor escola do que aprender a pensar?

Continua após a publicidade

Não há fórmula para “ensinar” alguém a gostar de ler. Para gostar de um livro, a pessoa precisa apaixonar-se pelo tema, pela narrativa, rir ou chorar com o conteúdo. Mas quem gosta de um livro lerá outro. E outro e outro… até descobrir que um livro é o portal para outros mundos, outras vidas e emoções. Foi o que aconteceu comigo. Se eu não gostasse de ler, de uma coisa tenho certeza: eu não seria eu.

Publicado em VEJA de 7 de novembro de 2025, edição nº 2969

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

SUPER BLACK FRIDAY

Digital Completo

A notícia em tempo real na palma da sua mão!
Chega de esperar! Informação quente, direto da fonte, onde você estiver.
De: R$ 16,90/mês Apenas R$ 3,99/mês
SUPER BLACK FRIDAY

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 7,50)
De: R$ 55,90/mês
A partir de R$ 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$47,88, equivalente a R$3,99/mês.