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Walcyr Carrasco

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A nova ostentação

O tempo, bem mais precioso de hoje, virou o diferencial dos ricos

Por Walcyr Carrasco Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 6 jul 2025, 08h00

Ostentar era desfilar com um relógio de ouro no pulso, um carrão importado ou postar foto do champanhe mais caro da carta e muitas vezes intragável. O rico clássico queria mostrar que tinha dinheiro. O rico de hoje quer mostrar que tem… tempo.

Sim, tempo! Aquela coisa etérea, invisível, que não se pendura no braço, nem se parcela em doze vezes no cartão. O tempo assumiu o papel que sempre mereceu. É um luxo. A nova elite não se gaba mais de ter três celulares tocando ao mesmo tempo; ela se ufana de passar o dia inteiro com o celular no modo avião. Não corre para o aeroporto; voa de jatinho, claro, e ainda chega atrasada de propósito, porque “não tem pressa”. Vai para Bali numa terça-feira qualquer e, nos stories, escreve: “Acordei, fiz ioga, meditei, mergulhei com tartarugas. Agora vou dormir de novo”. E você, lendo isso em um metrô apertado, quase saindo pela janela, pensa: “Essa pessoa venceu na vida”.

“A nova elite não se gaba mais de ter três celulares; ela se ufana de passar o dia com o celular no modo avião”

Os ricos de agora têm tempo para tomar café da manhã sem ser em pé, com a boca cheia de pão e respondendo a e-mails com o mindinho. Eles comem ovos mexidos feitos por um chef e dizendo coisas como: “A vida é feita de pausas”. Pausa, aliás, é uma palavra que virou mantra. Eles não almoçam correndo, almoçam como em um ritual. Prato fundo, guardanapo de linho, talher de prata herdado da avó francesa (mesmo que a avó seja dos cafundós do Judas). Tudo isso acompanhado de um vinho biodinâmico, produzido por monges trapistas, em seu contínuo silêncio absoluto. Tempo virou sinônimo de refinamento. Quem tem tempo, tem paladar. Quem não tem, toma café em cápsula e almoça no WhatsApp. Os ricos modernos não dizem mais: “Estou atolado de trabalho”. Eles dizem: “Estou dedicado a meu projeto de autoconhecimento”. Que, traduzindo, é: “Passei a semana toda na Chapada dos Veadeiros, deitado em uma rede, tomando kombucha artesanal”.

Enquanto isso, você troca de roupa no carro, engole uma coxinha murcha, segue para o terceiro job do dia. Tempo virou performance. “Acordei com o sol”, não porque a criatura tinha que bater o ponto, mas porque foi dormir cedo demais depois de relaxar na banheira com sal grosso. “Fiz uma caminhada descalço para aterrar”, e você aterrando o boleto no débito automático. Eles dormem oito horas por noite, frequentam terapeutas quânticos, fazem aulas de cerâmica, skincare e ainda dizem que estão “apenas tentando viver de forma mais simples”. Ah, tá.

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Enquanto isso, quem dá duro no trabalho precisa de tempo até para pensar. Porque pensar também exige tempo. E aí está o ponto: o tempo, hoje, é o que separa quem pode viver de quem só sobrevive. Não é só o dinheiro que falta, é o direito de parar. De não correr. De ser, em vez de apenas fazer. No fim, quem tem tempo parece ter tudo. Inclusive tempo para postar que tem tempo. O que é o auge da ironia. E você aí lendo esta coluna entre uma reunião e a louça do almoço.

Respira.

Se você conseguiu parar para ler até aqui, já ostentou mais do que imagina.

Publicado em VEJA de 4 de julho de 2025, edição nº 2951

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