A volta de Ronaldo Fraga em três M: Milton Nascimento, Minas e a Moda…
Retorno poético do estilista à passarela fez um tributo emocionado ao músico, costurado com fios de memória, infância e brasilidade
Há algo de mágico quando duas Minas se encontram — a de Milton e a de Ronaldo. Ambos nasceram de uma mesma terra simbólica: a da emoção, da palavra e da canção. Foi nesse território afetivo que o mineiro Ronaldo Fraga voltou à passarela, seis anos depois de seu último desfile, para celebrar o amigo e ídolo Milton Nascimento (o carioca mais mineiro do Brasil), em uma noite que uniu moda, música e memória no Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo.
Vídeo: Arthur Aguiar
“Fazer esse desfile aqui, celebrando Milton Nascimento, reencontrando tantas pessoas depois de seis anos longe das passarelas e ainda participar da edição que marca os 30 anos do SPFW… há muito o que celebrar”, disse Ronaldo a VEJA. “Esse desfile foi uma reverência, uma homenagem, um abraço a esse nome que sempre foi um grande farol para mim. Milton tem muitas camadas — eu escolhi celebrar a trajetória desse grande artista brasileiro a partir de sua infância, onde ele se forjou.”
O reencontro, como ele define, foi também um renascimento. Desde a pandemia da Covid-19, o estilista, conhecido pelos desfiles em narrativa, vinha refletindo sobre o formato mais comum de apresentar coleções. Enquanto viajava pelo Brasil com suas expedições culturais, a moda parecia ter ficado suspensa no ar. Mas nunca foi realmente embora. Continuou pulsando em sua loja no Mercado Novo, em Belo Horizonte, e nas colaborações com artesãs mineiras, como o Casa Bordada e o Crochetai-vos.
Delas, que segundo ele, “gostam de desfilar”, veio o desejo dele em novamente partilhar sua criação, o que justamente o trouxe de volta à semana de moda paulistana. A coleção nasceu da parceria que Ronaldo fez com Milton ao criar o figurino da turnê de despedida A Última Sessão de Música, em 2022. Com a bênção do artista, antes do agravamento de sua saúde, Ronaldo transformou a vida do músico em uma coleção-sinfonia.
O desfile começou com um menino de asas de papelão, representando o jovem Bituca – apelido de Milton na infância – em seus primeiros passos. Em seguida, outros garotos negros cruzaram um chão com trilhos de trem desenhados — imagem simbólica para o artista que atravessou fronteiras e uniu o país em canção. Adultos vieram depois, vestindo túnicas trapézio, adornadas com bordados, medalhas e recortes a laser que formavam xadrezes em relevo. Havia vestidos que dialogavam com canções como Caçador de Mim e Maria, Maria, e peças que evocavam a noite estrelada das montanhas mineiras.
Como na música de Milton, o simples se revela grandioso. “Milton é simples, mas também muito sofisticado. Ele trata de assuntos universais e daí nasceu a voz das montanhas do Brasil”, completou o estilista. Foi essa voz — e essa terra — que o estilista traduziu em roupa. Cada peça parecia narrar o Brasil pela costura, como quem conta histórias à beira de um fogão a lenha, com afeto e sabedoria. O resultado foi um desfile-cantiga, onde a palavra virou tecido e o tecido virou memória pelas mãos de Ronaldo Fraga que devolveu à moda sua poesia de origem. E provou que, de Minas, nascem não só montanhas e melodias — mas também o verbo mais bonito da criação: nascer.
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