Às vésperas do segundo turno entre Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), professores eméritos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), uma das mais prestigiadas do país, publicaram uma carta declarando oposição ao governo federal.
O texto, assinado por cinquenta docentes, acusa o presidente de tentar “asfixiar as universidades federais” e “desmontar o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia”. “Vemos nossos mais brilhantes jovens pesquisadores emigrarem para países mais ricos, a fim de avançar com suas pesquisas, uma vez que isso se tornou impossível no Brasil, resultado desse monstruoso corte de verbas”, diz o manifesto. Leia a carta na íntegra:
“Nós, Professores Eméritos da Universidade Federal do Rio de Janeiro, vimos a público manifestar nossa total indignação frente aos desmandos do atual governo, claramente empenhado em asfixiar as universidades federais e em desmontar o Sistema Nacional de Ciência e Tecnologia, duramente construído e continuamente aperfeiçoado desde 1951, quando da criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq.
O governo atinge este objetivo ao retirar verbas das universidades federais, comprometendo seriamente seu funcionamento. Da mesma forma age em relação à CAPES, ao CNPq e ao FNDCT, reduzindo drasticamente os auxílios à pesquisa e a concessão de bolsas para pós-graduandos, fragilizando a educação superior e a ciência como um todo. Como consequência disto, vemos nossos mais brilhantes jovens pesquisadores emigrarem para países mais ricos, a fim de avançar com suas pesquisas, uma vez que isso se tornou impossível no Brasil, resultado desse monstruoso corte de verbas.
As universidades públicas são responsáveis por mais de 95% da pesquisa produzida no país. Assim, deixá-las à mingua, sem recursos que garantam seu pleno funcionamento e sem verbas para bolsas de pós- graduação e pesquisa, torna evidente o projeto de nação engendrado pelo atual governo para o País, ao qual caberia apenas a exportação de commodities, tais como petróleo bruto, minério de ferro e soja.
Como defensores incontestes da ciência, da educação, da saúde pública e do Estado Democrático de Direito, posicionamo-nos fortemente contra o negacionismo que causou a morte evitável de centenas de milhares de pessoas durante a pandemia; contra o totalitarismo, que ataca os meios de comunicação e espalha o ódio e o terror na sociedade, com o uso contínuo e recorrente de fake news; contra o armamento da população, que serve apenas para munir as milícias com armamentos comprados legalmente; contra o desenfreado desmatamento da Amazônia, que altera as condições climáticas do planeta; contra a invasão de terras indígenas; contra o garimpo ilegal, que provoca destruição do meio ambiente; contra o desmonte da FUNAI e do IBAMA; contra os falsos profetas que manipulam os mais pobres, incutindo-lhes o medo e o ódio; e, finalmente, contra o projeto de um governo que nos colocou de volta no mapa da fome da ONU.”