Como a foto de uma professora no Instagram deu início a um debate sobre machismo e racismo na internet
Sim, nas redes sociais, um mero vestido pode causar um monte e dar início às brigas mais acaloradas. Caso do que foi usado pela professora escolar americana Patrice Brown. Uma imagem dela com o polêmico vestido ajustado ao corpo viralizou junto com a hashtag #TeacherBae. Nota-se, no Instagram dela, que as primeiras reações dos usuários foram […]

Sim, nas redes sociais, um mero vestido pode causar um monte e dar início às brigas mais acaloradas. Caso do que foi usado pela professora escolar americana Patrice Brown. Uma imagem dela com o polêmico vestido ajustado ao corpo viralizou junto com a hashtag #TeacherBae.
Nota-se, no Instagram dela, que as primeiras reações dos usuários foram positivas, acerca de como Patrice estava atraente. Após um tempo, porém, desconhecidos dela começaram a acusá-la de não usar roupas “apropriadas” para o trabalho em sala de aula. O que levantou uma discussão sobre racismo — pela internet, usuários revoltados defendem, exibindo fotos, como brancas utilizando o mesmo tipo de roupa, em retratos no Instagram ou no Facebook, não sofreram com comentários negativos — e machismo.
A viralização do post teve, pelo óbvio, impacto na vida de Patrice, que chegou a se deparar com o seguinte comunicado da escola onde leciona, após a repercussão: “[Brown] recebeu orientação sobre o Código de Vestimenta dos Empregados do APS, o uso das redes sociais e o Código de Ética de Georgia para os educadores e ela tem cooperado bem em relação à sua presença nas redes sociais”. Logo depois, ela deletou suas fotos de sua conta do Instagram.
Em conversa com este #VirouViral, a ativista Stephanie Ribeiro, líder de movimentos feministas e negros brasileiros, defendeu que o caso revela o que ela define como uma “hipersexualização do corpo da mulher”, que seria ainda mais intensa com as negras: “O que podemos observar com a reação do público é que há uma tentativa dupla de controle social da professora: primeiro por ela ser negra e, depois, por ser mulher”.
Segundo a ativista, os negros são vistos como objetos sexuais desde o século XIX. Um exemplo seria a sul-africana Sarah Baartman que, em 1810, foi levada à Inglaterra para aparecer em espetáculos. Ela fazia “sucesso” com suas nádegas protuberantes, resultado de uma condição genética denominada esteatopigia, que leva uma pessoa a acumular mais gordura na região. Após sua morte, teve seu cérebro e órgão genitais expostos no Museu do Homem de Paris até 1974. Abaixo, uma pintura que fez referência a ela:
“Sarah foi o ápice da objetificação da mulher negra, mas não parou por aí. Existe uma ideia de que nós, todas, temos um corpo curvilíneo, mesmo que isso não seja verdade. A professora poderia usar jeans e camiseta, como qualquer mulher, que ainda iria sofrer retaliação”, acrescentou Stephanie. “Mas ela não tem culpa de possuir essas curvas e não deve deixar de usar certas roupas por causa disso. A sociedade é que deveria ensinar os meninos a não praticar assédio, como o que sofreu Patrice”, concluiu.
Pela análise de Stephanie, se uma mulher branca, professora, mas com curvas, digamos, menos acentuadas, tivesse usado a mesma roupa, ela provavelmente não seria reprimida da mesma maneira. Nem na escola onde lecionaria, nem na internet.