Arte que brilha: exposição mostra joias que encantaram rei da Inglaterra
Mais de 350 peças raras da alta joalheria da Cartier entram em diálogo em exposição histórica em Londres

A partir deste sábado, 12 de abril, a Cartier apresenta, pela primeira vez em quase 30 anos, sua maior exposição dedicada às suas criações no Victoria & Albert Museum, em Londres. A exposição reúne peças únicas, algumas nunca antes exibidas ao público, com proveniências igualmente valiosas, como coleções reais, incluindo a do atual rei da Inglaterra, museus internacionais e coleções particulares. Antes mesmo de sua abertura a exposição Cartier já ganhou grande visibilidade, e os ingressos para já estão esgotados para as próximas sete semanas.
No início do século XX, o Rei Edward VII, se referiu a Cartier como ‘os joalheiros dos reis e o rei dos joalheiros’. O rei apreciava tanto as criações da Cartier, então localizada apenas em Paris, que incentivou os irmãos fundadores Pierre e Louis Cartier a abrirem uma loja em Londres a tempo de sua coroação, em 1902. A lista de clientes da Cartier era invejável, e essas encomendas ajudaram a criar peças marcantes, com acesso a pedras preciosas extraordinárias.
As exposições no Victoria & Albert Museum não se limitam apenas à arte, mas também abordam design, moda e joalheria, sempre traçando paralelos entre esses universos criativos e mostrando como a arte permeia infinitas formas. Algumas exposições recentes que chamaram grande atenção do público foram Christian Dior: Designer of Dreams (2019) e Gabrielle Chanel: Fashion Manifesto (2023-2024). A Cartier é um grande exemplo de como arte e joalheria se entrelaçam – por exemplo, no final do século XIX, os designers da Cartier eram incentivados a estudar livros de artes decorativas. A exposição exibe peças raramente vistas, muitas das quais são relativamente menos conhecidas, além de modelos iniciais de grandes coleções da marca, como as linhas Tutti Frutti e Panthère, até uma das maiores joias já encomendadas na história da Cartier – uma experiência verdadeiramente inesquecível.

A Cartier também tem uma relação histórica com o Brasil. Em 1904, Louis Cartier, neto de Louis-François Cartier, fundador da marca, presenteou Alberto Santos-Dumont com um relógio quadrado feito para ser usado no pulso, e não no bolso, como era comum na época. Em 1906, Santos-Dumont fez o seu primeiro voo motorizado público e filmado perto de Paris, e também frequentava os círculos da alta sociedade parisiense, onde Louis Cartier também circulava. Assim como Santos-Dumont foi pioneiro no mundo da aviação, Louis Cartier foi pioneiro na criação de tecnologias de marcação do tempo. Intitulada Santos, essa linha foi a primeira de relógios de pulso para homens na história da marca, e permanece até hoje, revolucionando a maneira como os relógios eram usados.
Em uma das galerias no início da exposição, a curadoria mostra como as criações da marca se adaptaram à cultura, aos interesses e às personalidades de cada cliente, tornando-se uma joalheria verdadeiramente internacional que transcende as barreiras de tempo e espaço. Nessa seção, as vitrines exibem as joias separadas por países, como França, Egito, Japão e Rússia. Os broches da Cartier foram inspirados no estilo extravagante rococó do Rei Louis XVI da França e até em monumentos históricos da Antiguidade. Uma das peças mais impressionantes é um relógio de 1927, em formato de templo egípcio, revestido com hieróglifos e materiais valiosos como ouro, madrepérola, coral, lápis lazúli e esmeraldas. Além das pedras preciosas, o mecanismo do relógio é extremamente inovador para a época, apresentando um painel oculto que se abre por uma dobradiça invisível – uma sutil referência às tecnologias das pirâmides e tumbas egípcias. Esse mecanismo foi inventado em 1912 com o chamado Relógio Misterioso, que não possui um mecanismo visível, parecendo flutuar magicamente no centro de uma base de cristal.


A exposição apresenta uma grande seleção de outros relógios históricos, que também não estão distantes das criações do mundo da arte, como o relógio Crash, criado em 1967. O relógio, que parece derreter, faz alusão a uma das mais importantes pinturas do surrealismo, A Persistência da Memória (1931), de Salvador Dalí. Apesar de teorias que sugerem que a ideia surgiu de um cliente que trouxe um relógio Cartier distorcido após um acidente de carro, o relógio Crash se tornou um símbolo de liberdade criativa, assim como obras surrealistas. Durante a exposição, diversos desenhos são expostos ao lado das peças, reforçando o papel da arte não apenas como inspiração, mas também no processo criativo das peças, onde o planejamento é feito com tanta beleza e criatividade que elas se tornam obras de arte por si mesmas.
A exposição também exibe peças que marcaram a história da alta joalheria, como o famoso broche em forma de flor, encomendado pela Rainha Elizabeth II em 1953, que ela usava com frequência, e o anel de noivado de Grace Kelly, de 1956, atriz e princesa de Mônaco. Em uma das salas, um telão exibe cenas de filmes marcantes com joias feitas pela Cartier, como O Grande Gatsby (1974), Alta Sociedade (1956) e Oito Mulheres e um Segredo (2018).
A história da Cartier também vem acompanhada de exuberância e poder. Um colar encomendado em 1928 pelo Maharaja Bhupinder Singh, o maharajá de Patiala, principado no norte da Índia, é uma das peças mais impressionantes da exposição. Este colar, decorado com uma grande quantidade de diamantes, desapareceu após a Independência da Índia, em 1947, e só foi redescoberto anos depois. Outro colar de 1937 com rubis e diamantes, foi usado pela socialite e editora de moda Gloria Guinness no famoso baile Black and White de Truman Capote, em Nova York, em 1966.

Cada joia exposta na exposição conta uma história única através de pedras preciosas e técnicas inovadoras. Ao longo de mais de um século, a Cartier tem sido não apenas um símbolo de luxo, mas também de arte, criatividade e cultura, e essa exposição é um convite para explorar essas conexões inspiradoras.