‘Últimos Dias em Havana’: a devastação maior não é econômica
Filme do diretor Fernando Pérez ('Suite Habana') traz personagem gay que se despede da vida por ter aids -- e pouquíssima assistência
(Últimos Días en La Habana, Cuba/Espanha, 2016) O cenário de Havana tem sido palco de bons filmes nos últimos anos. Caso do excelente Retorno a Ítaca (2014), com roteiro do escritor Leonardo Padura sobre um cubano que volta à cidade, depois de uma longa temporada na Europa, e é tido como louco pelos amigos que reencontra na capital, econômica e socialmente devastada. A devastação, de uma maneira quase documental, também está presente em Últimos Dias em Havana, de Fernando Pérez (Suite Habana), em cartaz agora no país.
Diego (Jorge Martínez) está acamado, e não é temporário. Desde que foi acusado injustamente de tentar seduzir um colega de escola no banheiro, por ser o gay da turma, apanhou feio e, para piorar, contraiu aids, em uma vida que transitou sempre entre a superfície e o subterrâneo, entre o claro e o clandestino, já que Havana, e Cuba, não é algo exatamente o lugar mais aberto à homossexualidade. Mesmo a família, de relativas posses e favorável à Revolução, vira as costas para Dieguito, quando ele se vê incapacitado e sentenciado à morte.
Menos Yusisleydis (Gabriela Ramos), a sobrinha torta de apenas dezesseis anos, cabeça de vento e sinceridade que beira o atroz: você já está para morrer, quero meu nome no seu testamento. E Miguel (Patricio Wood), o amigo que é mais que irmão — e dono de um segredo que o filme só faz semear. Uma das qualidades do filme é cultivar pontos abertos. O final, em que Yusisleydis aparece dando explicações e recitando destinos, é o ponto fraco do filme. Mas, até ali, ao menos 1 hora e 25 minutos terão valido a pena.