‘O Túnel’, um exemplar da vitalidade do cinema sul-coreano
Filme de 2016 do diretor Seong-Hun Kim chega em DVD ao Brasil
Jung-Soo (Jung-Woo Ha) dirige tranquilo na estrada quase vazia, com a única preocupação de não se atrasar demais para a festinha de aniversário da filha. Em uma fração de segundo, tudo terá mudado: o mundo desaba sobre ele — ou, melhor dizendo, o túnel recém-inaugurado que ele atravessava em seu automóvel. Sem nenhum ferimento grave, mas confinado por toneladas de escombros, imprensado entre as ferragens do carro e atordoado, Jung-Soo ainda não percebeu como é extrema a sua situação. Pelo celular (cuja bateria ele tem de economizar), descobre que nem os engenheiros sabem precisar em que ponto do túnel ele está preso. Um bolo de aniversário e duas garrafas de água é tudo o que ele tem para suportar a espera por socorro — que, como ele lentamente se dá conta, pode se estender por dias ou mesmo semanas, e talvez resulte infrutífera.
Do contraste entre a solidão enlouquecedora do protagonista no interior do túnel e a confusão de autoridades, policiais, repórteres e curiosos que se forma do lado de fora, o diretor Seong-Hun Kim produz mais um exemplar da vitalidade e da imensa criatividade do cinema sul-coreano, que nesta semana está em evidência também com Okja, da Netflix. Quando um envolvido na tentativa de resgate morre, o dilema se agrava: seria justo prosseguir na busca e talvez perder outras vidas, quando o próprio Jung-Soo talvez já tenha sucumbido? Combinando sátira e drama com fluência, Kim homenageia em enredo e tom o clássico A Montanha dos Sete Abutres, que Billy Wilder dirigiu em 1951.