David Coverdale, do Whitesnake: garanhão não, farofa sim
O cantor inglês refuta os boatos de que seja um grande namorador e fala de Slip of the Tongue, álbum no qual flertou com o hard rock americano dos anos 80
Mick Wall, jornalista que escreveu biografias de sobre Led Zeppelin, Black Sabbath e AC/DC, entre outros gigantes do rock, adora contar uma história de bastidores de David Coverdale. Wall disse que o cantor tinha um sotaque tão carregado quando entrou no Deep Purple, em meados dos anos 70, que o grupo contratou um fonoaudiólogo para que ele tivesse a bela pronúncia dos tempos atuais. “Sua pergunta é uma tolice. Sempre tive uma boa educação e faço questão que as pessoas entendam tudo o que eu falo”, retruca o vocalista, irritado com uma indiscrição do passado. O Whitesnake, grupo que Coverdale criou após a dissolução do Deep Purple, fez sete apresentações no Brasil no mês de setembro. Duas delas foram em festivais de grande porte – Rockfest, onde dividiu os holofotes com Scorpions, Helloween e Europe, e no Rock in Rio, no qual fechou uma das noites do Palco Sunset. O momento brasileiro do Whitesnake, contudo, continua mesmo após a passagem dos roqueiros pelo país. A Warner, gravadora que detém o catálogo do sexteto, está lançando uma edição reforçada de Slip of the Tongue, disco que marcou a breve passagem de Steve Vai (Frank Zappa, David Lee Roth) pelo combo liderado por Coverdale e que estreitou os laços da trupe pelo famoso hard rock farofa. Aliás, o Whitesnake trocou mais de guitarristas do que o grupo humorístico de heavy metal Spinal Tap mudou de bateristas: passaram pelo comando de Coverdale a dupla Bernie Marsden e Mick Moody, Mel Galley, John Sykes, Vivian Campbell, Adrian Vanderberg, Doug Aldrich e hoje o posto é ocupado por Reb Beach e Joel Hoekstra. Slip of the Tongue está sendo lançado no país pela Warner e contém nove faixas extras – demos, versões alternativas etc – que por vezes soam mais interessantes do que a edição que foi para as lojas em 1989. E já que David Coverdale está com a língua afiada, nada melhor do que começar a entrevista com outra indiscrição contada por Wall.
Mick Wall, famoso biógrafo de bandas de rock, disse que ninguém pode apresentar a mulher ou mesmo a mãe para o senhor. Porque seu magnetismo sexual é tamanho que elas se apaixonam perdidamente. É verdade?
Ah, para com isso! Estou casado há mais de 30 anos e sou muito feliz com a minha mulher!
Slip of the Tongue marca a estreia do guitarrista Steve Vai no Whitesnake. Como se deu a entrada dele na banda?
Sou fã do trabalho de Steve Vai desde que o assisti no filme Crossroads. Mas como John Sykes era o guitarrista da banda, tive de esperar pelo momento certo. Que chegou quando o substituto de Sykes, Adrian Vanderberg, machucou o pulso e ficou sem poder tocar. Senti então que era hora de retomar meu contato com Vai. Fiquei muito feliz quando ele concordou em se integrar ao grupo.
Uma das canções do álbum é Fool For Your Loving, que o Whitesnake já tinha gravado tempos atrás. Por que resgatar essa música e dar a ela um andamento mais rápido?
A ideia não partiu de mim, porque sempre gostei da versão que está registrada em Ready an’ Willing, de 1980. Mas a Geffen, gravadora do Whitesnake na época, queria tanto que ela fosse regravada que não me restou outra alternativa senão atender ao pedido dos executivos. Fizemos uma versão mais cool, menos crua. Pessoalmente, gosto das duas.
Uma coisa que nunca mudou no Whitesnake foi o lado blues do senhor. Por mais que a banda tenha mudado, ele sempre esteve presente. Como define isso?
Amo blues, soul… Para mim, nunca passaram de palavras para definir minha expressão pessoal. Não se trata apenas de doze compassos, mas sim de um sentimento que eu tenho. Quero mostrar esse sentimento na minha voz por mais que a bateria e as guitarras estejam no nível máximo de decibéis permitidos!
O senhor sempre compôs ao lado de seus guitarristas. Vanderberg foi o principal colaborador de Slip of the Tongue, Reb Beach, John Sykes e a dupla Bernie Marsden e Mick Moody colaboraram em discos anteriores. Qual o motivo do senhor trabalhar sempre com um guitarrista ao lado?
Compor é um ato muito solitário, então sempre escolho um membro da banda para dividir essa tarefa comigo. Curiosamente, eles são guitarristas. A gente estabelece uma conversação musical e criamos grandes canções. Adoro meus parceiros: os que você citou, Jimmy Page, Ritchie Blackmore… Grandes canções!
Quando o Whitesnake veio ao Brasil pela primeira vez, em 1985, o senhor estava determinado a conquistar o mercado americano. Um feito atingido dois anos depois do Rock in Rio. O Brasil foi uma espécie de laboratório para vocês?
Viemos para o Rock in Rio por causa de uma tragédia – Rick Allen, baterista do Def Leppard, perdeu o braço após um acidente automobilístico. Queria ter estreado nos palcos brasileiros em outras circunstâncias, mas… O Brasil foi o início do meu caso de amor com as Américas.
De volta ao Rock in Rio: John Sykes representou uma grande mudança no som do Whitesnake. Com ele, vocês soaram mais rápidos e pesados. Que outras colaborações desse musico você destacaria?
Eu queria um frescor na sonoridade do Whitesnake e que ele soasse mais novo, mais inspirador… John Sykes foi importante para mim…. e creio que eu fui importante para ele também.