Viradouro e Imperatriz largam na frente com melhores sambas de 2025
Gravação da Unidos da Tijuca tem voz de Anitta, coautora de letra

A poucos dias do Carnaval, a coluna GENTE entra no ritmo que toma conta das ruas nesta época do ano. A avaliação dos sambas-enredo das escolas do Grupo Especial na Cidade do Samba mostra que a disputa pela melhor escola de 2025 repete a dobradinha do ano anterior: Viradouro e Imperatriz largam na frente. Como os desfiles oficiais de 2025, em março, serão pela primeira vez divididos em três noites – com quatro escolas em cada – dividimos a seguir as letras também por três blocos.
Na dianteira, a atual campeã Viradouro abre o álbum (já presente nas plataformas digitais) com o enredo Malunguinho, o mensageiro de três mundos, sobre a história da entidade afro-indígena espelhada no líder quilombola João Batista. Atual vice-campeã, Imperatriz aposta em Ómi Tútu ao Olúfon – Água fresca para o senhor de Ifón. Se juntam ao pelotão dianteiro, Grande Rio, com Pororocas parawaras: as águas dos meus encantos nas contas dos curimbós; e Salgueiro com Corpo fechado. A primeira tem uma melodia valente, ainda que de palavras difíceis de se cantar; a segunda traz um dos melhores refrãos do ano: “Meu terreiro é a casa da mandinga/ Quem se mete com o Salgueiro acerta as contas na curimba”.
Como se vê, religiões de matriz africana dominam as escolhas de enredo para este Carnaval. No grupo do meio, a Unidos da Tijuca vem de Logun-Edé: santo menino que velho respeita. A novidade é a voz feminina na gravação. Anitta, coautora do samba, traz uma certa doçura ao bonito samba. Após o arrasa-quarteirão do samba do caju passado, a Mocidade Independente de Padre Miguel, volta a postar no futurismo que marca sua identidade, com Voltando para o futuro não há limites para sonhar. Uma letra curiosa para um enredo aparentemente confuso. A Mangueira canta sobre os pretos novos em À flor da terra – No Rio da negritude, entre dores e paixões. Se falta melodia inspirada, mais grave é não ter um refrão que, como tão bem sabe fazer, sacuda a Sapucaí. Fechando o grupo intermediário, Beija-Flor faz homenagem a Laíla (1943-2021), figura emblemática da escola, em um samba que aposta em versos melodiosos para tentar abocanhar o campeonato.
Na ponta de baixo da tabela, Portela homenageia Milton Nascimento em Cantar será buscar o caminho que vai dar no sol. Faltou história e inventividade à letra. É pena. Milton merecia mais. Já a Unidos de Padre Miguel, de volta à elite do carnaval depois de mais de 50 anos, não faz uma reestreia entre as grandes à altura de seu passado recente do grupo de Acesso, onde emplacou belos sambas afro. Agora, canta Egbé Iyá Nassô. Sem a mesma pegada de outrora, é um samba aquém do que se esperava. Completando o ingrato grupo, Paraíso do Tuiuti, que tem um dos melhores enredos do ano, conseguiu a proeza de ter também um dos piores sambas. Quem tem medo de Xica Manincongo?, sobre a primeira travesti não indígena do Brasil, tem passagens que apostam em gírias e não contam a história da homenageada. Por fim, fugindo de temas afro, Quanto mais eu rezo, mais assombração aparece, da Vila Isabel, é puro suco de Paulo Barros, sobre assombrações e folclore popular. Um samba que em nada lembra os bons momentos da escola de Noel.