Os posts que empresários obrigam artistas a deletar
Para evitar 'cancelamento', estão vetadas as fotos em cima de elefante (exploração de animais) e com crianças humildes (usar a pobreza para ganhar likes)

Os grandes empresários de artistas são unânimes em dizer: não há mais dúvida sobre “se”, mas “quando” determinada pessoa será atingida pela cultura do cancelamento (saiba mais na reportagem de capa da semana). Com o Tribunal das Redes Sociais atuando de forma implacável, as principais agências de gestão de carreira de celebridades têm feito uma varredura em posts e fotos publicados desde a infância até o momento. Se detectam algo com potencial para gerar problema, o conteúdo é deletado na hora.
Exemplos do que não pode mais: fotos em cima de elefante em viagens na Ásia (exploração de animais), ao lado de crianças da África (usar a pobreza para ganhar curtidas), com trajes típicos de algum povo, seja de índio ou havaiano (apropriação cultural) e assim por diante. Há exageros, claro, e eles vão além das fotos. Seguir gente de opinião controversa, a exemplo da escritora J.K. Rowling (cancelada por transfobia), pode sugerir endosso ao ponto de vista alheio.
O mesmo vale para as curtidas de fotos. Ludmilla, hoje lésbica assumida e dona de uma base de fãs LGBT gigantesca, deu like em um post de Jair Bolsonaro na época da eleição – a funkeria diz ter apertado o emoji de coração no celular “sem querer”. Pronto, ela foi cancelada momentaneamente por virem que apoiaria o candidato que já disse que as “minorias devem se curvar à maioria”. A fama e a exposição são proporcionais à fúria dos ataques. Quando mais famosa a pessoa, mais suscetível está. Influenciadores cujo ofício é basicamente postar conteúdo da própria vida, fazendo da rotina um reality show particular, sem perceber dão munição aos opositores em um eventual cancelamento.
Gabriela Pugliesi, por exemplo, havia postado mais de 7 000 fotos no Instagram dela — isso fora as centenas de horas de vídeos no Stories próprio e de amigas também famosas (afinal, essa povo viva da retroalimentação). Ao ser cancelada por ter dado uma festa durante a pandemia, dizendo a frase “f***-se a vida”, o público passou a examinar com uma lupa conteúdo antigo para colocar na roda outros escorregões morais, como bebedeiras homéricas na Bahia e fazer propaganda de produtos sem avisar tratar-se de anúncio publicitário.