O relato de modelo que acusa homem de assédio em ônibus SP-Rio
Raquel Possu voltava de um trabalho no veículo da Nova Itapemirim; empresa se manifestou

Durante uma viagem de ônibus de São Paulo ao Rio de Janeiro na terça-feira, 25, a modelo e estudante de psicologia Raquel Possu, 25 anos, diz ter sido assediada por um passageiro, de 33 anos, sentado ao seu lado. Raquel voltava para o Rio após um trabalho, quando caiu no sono. Foi acordada num susto com o homem tocando em sua perna com a genitália para fora. “Tinha acordado cinco horas da manhã naquele dia e, quando acabou o meu trabalho, fui direto para a rodoviária. O ônibus ia chegar onze e meia da noite no Rio e caí no sono. Estava sentada no assento da janela, quando cheguei esse cara já estava no assento do corredor. Acordei com as mãos na minha perna, não consigo te dizer o que estava acontecendo antes: se o cara já estava fazendo alguma coisa comigo ou não. Nem sei se acordei porque ele tocou na minha perna ou porque o ônibus diminuiu a velocidade”, disse ela à coluna GENTE.
De acordo com a modelo, o ônibus, da empresa Nova Itapemirim, estava perto de fazer uma parada num dos restaurantes Graal, há cerca de duas horas do Rio, quando ela acordou com o homem segurando seu pênis. “Fiquei completamente paralisada. Levantei e, antes mesmo do ônibus parar, a primeira coisa que fiz foi falar com o motorista”, afirmou. No entanto, Raquel diz que o motorista demostrou descaso com a situação. “Ele parecia estar mais preocupado com o fato de atrasar a viagem do que se dar a qualquer trabalho do que tinha acontecido comigo. Então me deu duas opções: ou de trocar de poltrona ou denunciá-lo. Disse que queria os dois e ele me indicou o gerente do Graal, parecendo mais uma vez uma tentativa de se livrar de qualquer responsabilidade na situação. O gerente me indicou os policiais que estavam sentados em uma mesa”.
Ao abordar os três policiais e explicar a situação, Raquel foi orientada a identificar o passageiro dentro do ônibus. “Disse que iria sentar na mesma poltrona para que eles soubessem quem era. Eles me falaram para eu dispersar, para que ninguém soubesse que eu tinha denunciado. Voltei para o ônibus e sentei na mesma poltrona. O cara, sem nenhum constrangimento, se sentou no mesmo lugar, ao meu lado. Um tempo depois, quando o ônibus estava para sair, o motorista me cutucou sutilmente nas costas. Achei que era para falar que os policias já tinham chegado. Desci com ele, foi quando me informou que os policiais não iriam me socorrer porque tiveram outra emergência. Perguntei se a gente seguiria viagem e ele disse que sim, ainda me falou: ‘ele tem cara de pervertido mesmo’. Me senti completamente sozinha e desamparada, porque as medidas que deveriam ser tomadas foram completamente ignoradas”.
Raquel então pediu ajuda por mensagem a um amigo, que ligou para a rodoviária para que uma viatura interceptasse o ônibus. Ao chegar no Rio, os policiais levaram o homem para a 4ª DP numa viatura – a modelo seguiu à delegacia em um carro de aplicativo. “Na entrada a delegada, com os três policiais em volta e o assediador do meu lado, pediu para que eu começasse a dar meu relato, enquanto o cara me interrompia. Me colocaram para continuar meu relato a pouco metros de distância dele, em uma mesa que ficava na recepção, onde ele conseguia ouvir com clareza os meus dados pessoais, meu endereço, meu nome completo…”.
Até o momento, Raquel não teve acesso às filmagens do ônibus. “Ficou a minha palavra contra a dele e até agora a Itapemirim não cedeu as imagens. A única pessoa que veio falar comigo foi um rapaz do marketing, que disse se sensibilizar com o caso. Logo depois, a Itapemirim publicou uma nota de repúdio, tentando demonstrar solidariedade, mas quando começou ser questionada sobre o caso, a postagem foi apagada”, diz a jovem.
Após repercussão do caso, a empresa se pronunciou na sexta-feira, 29, afirmando que não identificou nada de anormal. “No caso em questão, foram analisadas minuciosamente seis horas de gravação. Na ocasião, havia 27 passageiros a bordo, não foi identificada nenhuma ocorrência anormal. Enfatizamos que é necessário agir com cautela diante de qualquer denúncia ou manifestação pública, uma vez que a divulgação de imagens ou informações sem devida verificação pode causar danos irreparáveis”. A empresa também foi procurada pela coluna, mas até o momento não se manifestou.
ATUALIZAÇÃO: Em nota assinada pelo diretor de operações Júlio Cézar de Assis, enviada à coluna na tarde desta segunda-feira, 31, a empresa esclarece que: “(…) Em todo o material comprobatório que inclui as gravações, não constatou-se sequer aparente ato de importunação, e todos materiais foram disponibilizados as autoridades competentes. Como o suposto caso envolvia dois clientes, sendo a primeira reclamante e o segundo o suposto denunciado, é inerente toda e qualquer verificação ser minuciosamente analisado para que a Nova Itapemirim não seja conivente, mas que também não seja infratora e venha causar mal à índole, humanidade e bem estar de nenhum de seus clientes, pois não cabe a nós esse poder. A empresa reafirma que preza pelo acolhimento e dignidade de cada passageiro, e seguirá colaborando para o total esclarecimento do caso, mas com responsabilidade. A Sra Raquel Possu recebeu toda assistência necessária e cabível desde o momento da interação com nosso motorista, que ocorreu somente após o ônibus encostar na parada Graal Alemão em Queluz (SP), onde prontamente a mesma foi conduzida e se pôs a falar com os policiais da PRF ali presentes. (…) Não cabe a Itapemirim entrar em nenhuma esfera que não seja a que ela sempre teve, treinar, capacitar, e promover viagens com segurança, pois nosso compromisso é com a verdade e a integridade de nossos clientes desde o primeiro até os mais de 2 milhões já transportados. Por fim, empresa zela por todos os seus passageiros, colaboradores e sua missão com a sociedade, atenta de forma justa, imparcial, e com amplo compromisso com a verdade”.