O recado de Antonio Fagundes a quem critica a Lei Rouanet: ‘Cala a boca!’
Entretanto, o ator esclarece, em entrevista à coluna, que não usou o recurso no espetáculo ‘Baixa Terapia’, em cartaz no Rio
Em cartaz no Rio com o espetáculo Baixa Terapia, Antonio Fagundes está à frente do elenco que conta o drama de três casais que se encontram na antessala do consultório de um psicanalista que faltou ao trabalho. No final de semana de estreia, Fagundes se incomodou com mais de cinquenta pessoas que se atrasaram e as impediu de entrarem ao teatro – até a polícia foi chamada (para conter a ira dos atrasados). Em conversa com a coluna, o ator fala dessa “falta de educação” reinante no país, resultado em parte do que chama de falta de compreensão das palavras. Onde até termos básicos têm que ser bastante explicados.
Por que você se irritou com algumas pessoas chegando atrasadas em sua peça? Começo o espetáculo rigorosamente no horário marcado, em respeito a quem chegou na hora. Não permito atrasos. Fico até cansado de falar disso, é algo que repito há quarenta anos. Está no ingresso: “começamos rigorosamente no horário marcado, não havendo devolução ou troca de ingresso”. As pessoas não entendem o sentido de certas palavras. “Começar rigorosamente no horário marcado” não é chegar naquele horário. É como um voo marcado para 10h. Se você chegar às 10h no aeroporto, vai ver o avião lá no céu. Tem que chegar antes, procurar seu lugar, se acomodar na poltrona e ficar pronto. Não sei mais o que posso fazer para que entendam isso.
Baixa Terapia conta o drama de casais na antessala de um psicanalista. Dá para ser leve falando de terapia? Não é um texto leve, mas é uma comédia hilariante, a plateia dá uma gargalhada a cada trinta segundos. E não sei se a peça faz a relação de um casal melhorar, mas seguramente toca em problemas importantes como a criação dos filhos, o respeito ao outro, o morar ou não juntos… São pelo menos vinte temas que o texto levanta, importantes para toda relação.
Já fez terapia? Nunca fiz! O ator faz terapia todo dia quando entra em cena. Quando a gente se aproxima de um personagem, a primeira coisa que faz é colocar compaixão nos problemas que ele levanta. Também não vejo sentido fazer terapia de casal.
O Ministério da Cultura anunciou a liberação de 1 bilhão de reais, recursos de projetos da Lei Rouanet que estavam bloqueados pelo governo Bolsonaro. Ainda há gente que não entende a Lei Rouanet… Essas pessoas ficam no achismo. Digo: ‘Cala a boca, é melhor não falar nada’. Essas pessoas que se posicionam contra a lei não entendem nada! Não sabem da importância dessa lei num país onde a cultura é tão menosprezada. É igual quando falam de comunismo. Elas não sabem o que é comunismo. É ridículo que a gente tenha que ensinar alguns significados, não?
Já foi “acusado” de usar a Lei Rouanet? Sou constantemente acusado. Mas meu espetáculo não tem patrocínio de empresa, de estado, nada. Vivemos exclusivamente da bilheteria. Tem uma hora que não tem que conversar, elas não têm a menor noção do que estão falando.
E o que responde a elas? ‘Vai se informar, meu filho’. Mas não querem se informar. Se quisessem, já teriam mudado de opinião.
É otimista com o Brasil de 2023? Tem uma frase do Ariano Suassuna que venho usando bastante: “Os otimistas são ingênuos, os pessimistas são amargos. Eu prefiro ser um realista esperançoso”. É fantástica essa posição.
A Globo estuda fazer o remake de Renascer (1993) agora quando se completa 30 anos da novela. O que isso significa para você? Quer dizer que o tempo passou, que a gente está ficando mais velho. Quando começam a refazer as coisas que a gente fez… (risos). Se fizerem, vai ser lindo. É uma linda novela!
Aceitaria revisitar o personagem? Não vejo como, nem seria chamado, não estou na idade para fazer. Se bem que meu personagem na época tinha a idade que tenho hoje. Eu tenho cabelo branco desde os 35 anos. Isso ajudou (risos). Mas não me vejo fazendo, não.
Outra tendência é ter influencers no elenco de novelas. É algo que te chateia? O que me incomoda é ter maus atores. Mas isso (maus profissionais) tem até entre advogados. O importante é, erro deles (da TV Globo), achar que chamar influencer de 23 milhões de seguidores vai ter sucesso na novela. Não, porque os 23 milhões só vão ver a peça ou filme ou novela, se o influencer for bom ator.
Voltaria para a Globo? Agora esse pensar (na possibilidade) não está mais na mão da gente, eles contratam por obra. No dia que eles pensarem em algo para mim e o projeto for bom dentro das condições que eu desejo trabalhar, vou com o maior prazer.
SERVIÇO: Peça Baixa Terapia / ONDE: Teatro Clara Nunes – Shopping da Gávea (R. Marquês de São Vicente, 52 – Gávea RJ) / 6ª às 21h, sab às 20h e dom às 18h / R$140 e R$70 (meia).