O que o abajur-revólver de Claudia Leitte tem a ver com Bolsonaro
A designer de interiores Micheline Miranda fala da tendência de objetos de consumo em formato bélico
Claudia Leitte dividiu opiniões ao expor, mesmo que por alguns minutos, um objeto um tanto peculiar da decoração de sua casa: um abajur em formato de revólver, assinado pelo designer francês Philippe Starck, vendido por 2.235 dólares (mais de 11,5 mil reais). Quadros com pinturas de armas costumam ser vendidos em lojas de decoração de shoppings a partir de 300 reais. Anéis, pulseiras e outros adereços também são corriqueiros em lojas do gênero. Recentemente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro comemorou seu aniversário de 38 anos com um bolo em formato de caixa de armas. Jair Renan, o filho 04 do presidente, já mostrou que gosta de malhar com uma camisa repleta de desenhos de munição. O perfume masculino da linha Arsenal, da grife Gilles Cantue, num frasco que imita uma bomba, não sai por menos de 200 reais em lojas importadas; já a fragrância Azzaro custa praticamente o dobro. No site oficial, diz: “carismático e poderoso, este perfume masculino único cativa e enfeitiça pelo seu calor”.
Mas afinal, por que objetos de decoração, perfumaria e acessórios costumam atrair certos públicos pelo formato bélico? A coluna ouviu a designer de interiores Micheline Miranda, que está na mostra ‘Morar mais por menos’, a respeito do assunto: “Acredito que o designer bélico nada mais é do que indicativo de um cunho político, está embutida uma manifestação, como o próprio Philippe Statck afirma. Vai muito de gosto pessoal. Meus clientes não têm essa pegada de manifestação dentro de seus lares, eles buscam conforto e refúgio independentemente do que nas redes sociais possam vir a se manifestar por alguma posição. Eles querem chegar em casa esquecer do mundo louco lá de fora”.
E o que tudo isso tem a ver com política? A pauta do armamento está em voga desde a eleição de Jair Bolsonaro (PL). Seus filhos ostentam essa bandeira de diversas formas, contribuindo para a imagem cotidiana e banal das armas – seja num bolo de aniversário ou numa simples ida à academia. Claudia pode ter caído “sem querer” nessa arena, mas não virou alvo à toa.