O que explica o ‘silêncio’ de mulheres em denúncias contra machismo
Especialistas citam julgamento público, medo de retaliação e prejuízos à carreira

Cauã Reymond está no centro de uma polêmica após a coluna GENTE dar com exclusividade que o ator e Bella Campos andaram se estranhando nos bastidores de Vale Tudo. Por outro lado, parceiras de cena e de vida jogam indiretas nas redes sociais, sem citar o nome do ator. Mas a pergunta que fica é por que essas mulheres, profissionais bem sucedidas e independentes, não denunciaram oficialmente às autoridades a violência psicológica que dizem ter sofrido – por causa do “patriarcado”, “machismo” e “misoginia”? Mais do que isso, indo bem além do caso midiático que tomou as redes sociais nos últimos dias, por que tantas mulheres ainda temem expor casos de machismo no ambiente de trabalho ou mesmo em casa?
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Priscila Lima, psicóloga especialista em terapias cognitivo comportamentais, detalha os seis principais motivos pelos quais as mulheres que sofrem algum tipo de violência não procurarem ajuda. São eles: o medo, a vergonha de se expor, a dependência emocional e/ou financeira do companheiro, a não confiança na Justiça, o fato do agressor nem sempre ser punido e a dificuldade em comprovar a violência.
“O fato da violência psicológica ser uma das formas de abuso mais sutis, silenciosas e devastadoras às quais uma mulher pode ser submetida, sem marcas físicas visíveis, se instala lentamente, e em muitos casos, leva algum tempo para se perceberem como vítimas. O maior desafio é identificar comportamentos que caracterizem violência psicológica, tais como: tentativas de isolar a mulher de amigos e familiares, ameaças, humilhações, constrangimentos, manipulação, intimidação, chantagem, limitação da liberdade de ir e vir. Essa identificação passa pelo autoconhecimento, e observação de comportamentos que causem desconforto, quais prejuízos trazem e se são recorrentes. A mulher pode gravar áudios, guardar capturas de tela de mensagens trocadas que comprovem humilhação, constrangimento, xingamento, ou proibição, é importante para mostrar o quanto isso tem afetado sua saúde mental”, diz a psicóloga à coluna GENTE.
Já Alê Vazz, estrategista de marca e CEO da DuoDigi, analisa o medo dessas mulheres de tamanha exposição do ponto de vista financeiro. “Acredito que no caso delas o silêncio não é por falta de coragem, mas por estratégia. Cauã ainda carrega uma imagem de ‘bom moço’ forte, construída e sustentada ao longo dos anos e em um país machista como o Brasil, qualquer mulher que confronte esse tipo de narrativa arrisca ser descredibilizada ou queimada na própria imagem. Elas sabem que não é só uma denúncia, é um embate contra uma percepção pública. E isso, em branding pessoal, tem um peso enorme”.
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Para a psicóloga, o fato de serem pessoas públicas pode haver uma influência da pressão social. “É o receio de retaliações em termos de acusações e ações judiciais, além de consequências profissionais”, continua. Alê vai pelo mesmo raciocínio. “A escolha de falar de forma indireta, mas coletiva, mostra força e inteligência. Elas criaram impacto, geraram reflexão e, ao mesmo tempo, se protegeram de um sistema que, historicamente, tende a desacreditar mulheres que denunciam homens admirados”.
Os profissionais concordam num ponto crucial: a importância de se falar abertamente sobre o assunto, desde que assim seja do interesse de quem se colocou como vítima. “A decisão de denunciar ou não um caso de violência doméstica é pessoal e depende de cada mulher, que pode optar por não denunciar publicamente por razões diferentes, como proteger sua saúde mental e evitar reviver momentos difíceis”, conclui Priscila.