Maitê Proença sobre saudade de novelas: ‘trabalho quase insuportável’
Em entrevista à coluna GENTE, atriz fala de trabalhos passados, envelhecimento e teatro

Em Duas Irmãs & Um Casamento, em cartaz no Teatro Claro Mais RJ, em Copacabana, na zona sul do Rio, Maitê Proença, 66 anos, sobe ao palco ao lado de Debora Olivieri, 66, para viverem as irmãs Catarina e Rosa, respectivamente. O público acompanha o reencontro das duas, que se reúnem em uma casa de campo para organizar um casamento. Catarina (Maitê), sofisticada e bem-sucedida, enfrenta os desafios de múltiplos divórcios; enquanto Rosa (Debora), solteira e independente, traz perspectiva não convencional às relações. Em conversa com a coluna GENTE, Maitê fala sobre sua forma de ver as relações – a atriz nunca foi casada oficialmente – além de comentar o remake de Dona Beja, da Max, com Grazi Massafera no papel principal.
A peça trata de temas como solidão e envelhecimento. Como lida com esse processo no dia a dia? Em toda a fase da vida as pessoas estão reclamando de alguma coisa, mas depois, quando estamos ficando mais velho, tem dores, além do que se vê no espelho. Essa dor é um negócio ruim, mas por outro lado te obriga a não ser sedentário. Se você se mexer, as dores diminuem. E um chamado para o movimento quando você já não quer mais fazer porque está velho. Tem uma ordem bonita nessa caminhada: se a gente não entregar os pontos, se observar e jogar junto, pode ser melhor do que antes. Tem gente jogando a toalha com 20 anos. A felicidade não vem de graça, precisa investir nela, na saúde. Ir para uma academia um pouquinho, se alimentar melhor. Se fizer isso, ganha ânimo para a batalha.
Se não está em cartaz, como é a sua rotina? Faço uma hora de exercício todo dia. Tenho um problema no joelho, há muito tempo que tenho que operar, mas não estou querendo. Então faço fisioterapia, mas é fisioterapia power, fico cansada. Faço no mesmo horário que a minha netinha faz natação. Nessa história, ela assiste a uma parte da minha aula, que ela acha muito menos divertida do que a dela, e eu vejo uma parte da aula dela. Depois a gente vem para casa e tem uma programação juntas com muitas artes. Gosto da parte manual, faço artesanalmente todos os produtos de limpeza de casa, são mais eco friendly, de material biodegradável. Se não fosse atriz e escritora, seria química. E leio bastante, ouço muito podcast.
A senhora nunca teve um casamento oficializado. Por que essa escolha? Não tive bons modelos em casa. Não era uma coisa que funcionou, a minha referência não era boa, não acreditava na família como uma instituição que traz harmonia e paz e tudo isso e fui levando desse jeito. Se tivesse amor, vontade de ficar junto e disposição não precisava oficializar. Porque isso é um negócio inventado pelos homens. E depois, não precisava do dinheiro do outro assim. Vou casar para quê? Para ele depois me dar uma pensão? Não. Mas estou aberta para qualquer atividade amorosa. Não tenho nada contra, aliás, tive a vida inteira relações, só não achava que precisava da formalidade.
Após colocar seu apartamento à venda, disse que queria “viver em contato com a natureza”. Como está sendo isso? O novo espaço está sendo feito. A gente está utilizando recursos, que estão vindo do outro apartamento. Mas vai ser um espaço com possibilidade de contato com a natureza bem mais próximo. Até porque agora tenho crianças na minha vida. Serão quatro netos, minha filha está grávida de novo e tem mais duas que vieram junto com o marido. E elas precisam entender que minhoca é um negócio normal, galinhas, essas coisas todas que estavam aqui antes da gente.
A Max divulgou um teaser de Dona Beja com Grazi Massafera. Chegou a ver? Não vi, mas li porque me chamaram no começo para participar. Não sei o que teve de alteração em cima do que li, foram uns primeiros capítulos lá no comecinho. É outra Dona Beja. A minha Dona Beja foi feita em cima de fatos históricos, do livro do Agripa Vasconcelos, tinha todo o contexto histórico do Triângulo Mineiro.
O que achou dessa mudança? Essa Dona Beja é mais uma ideia de algo mítico. Como se a Dona Beja tivesse questões de um mundo mais moderno. Eles estão transpondo questões da atualidade para uma época de 1800. Não sei o que que vai dar, mas estou curiosa para ver e tomara que dê certo. Grazi merece e eles trabalharam para isso.
Sente falta de fazer novelas na Globo? Gosto de fazer, mas não no ritmo que fazia. Na época que protagonizava, as novelas eram centralizadas no personagem principal, a gente fazia 30, 35 cenas no dia. Hoje se gravam 10 no máximo. Era um trabalho quase insuportável, não dava para fazer mais nada. Não dava para ir nem ao dentista. Mas tinha um ambiente familiar na televisão.
Esse ambiente se perdeu? Não sei, mas de alguma forma, quanto mais foi se sofisticando esse mercado, mais difícil foi ficando do ponto de vista humano, no trato com as pessoas. Tinha um mercantilismo ali, mas as pessoas que produziam eram amigas… Hoje a produção executiva passou a ganhar um percentual em cima da economia que eles fazem do orçamento. E essa economia foi virando o foco e o artístico deixado de lado.
Quais são os seus preparativos para 2025? Há bons planos para a peça o ano inteiro, mas gosto de ter tempo para viver. Para ir à praia, inventar esse lugar novo que está nascendo, curtir as pessoas que amo, sem que a vida tenha que ser tão produtiva. Sem ter que ficar correndo atrás e chegar no limite da exaustão. Tenho vivido os dias de forma mais inteira, sem ficar pensando daqui a uma hora como é que vai ser.