Inovações tecnológicas de ‘Travessia’ dividem especialistas em televisão
Produção de Glória Perez não é consenso entre pesquisadores e telespectadores
A nova novela das 9 da TV Globo, Travessia, de Glória Perez, apresenta como um de seus temas centrais a internet e o uso de tecnologias, citando termos recentes – como metaverso e apresentação de hologramas. Mas o que tem mesmo chamado a atenção dos telespectadores é a inovação tecnológica inserida na edição: a tela dividida quando os personagens estão em ligação de vídeo, por exemplo. O efeito, até então raríssimo na TV aberta, já é recorrente nas produções seriadas do streaming. A coluna ouviu especialistas para entender como isso é apresentado na prática.
Para Lucas Martins Neia, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP), estas inovações refletem bem o plano de fundo da trama. “Acho interessante, porque é uma forma do tema refletir esteticamente na narrativa da novela. Tem também as mensagens de celular aparecendo na tela, que a gente já via com maior incidência em séries internacionais”. Neia pondera que a “inovação” pode gerar um estranhamento por parte do público, mas com o tempo a linguagem se torna mais cotidiana.
Já Aurora Miranda Leão, doutoranda em Comunicação na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), com especialização em Audiovisual em Meios Eletrônicos pela Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que a tecnologia talvez interesse mais ao público jovens, que não representa o perfil do telespectador mais fiel às novelas. “Ninguém vai olhar para trás e lembrar da novela porque ela fez tais e quais inovações. O que fica não são essas invenções tecnológicas, eu acho isso muito importante, mas marca muito mais para a dramaturgia uma bela fotografia, uma bela trilha sonora, é disso que as pessoas vão lembrar”, defende. Para a pesquisadora, a novela de Glória Perez ainda falta apresentar “uma carpintaria dramática, alicerces dramaturgos fortes para que, independentemente de ter tecnológica, se sustente”.
A audiência da trama (em torno de 24 pontos) não anda mesmo das melhores – bem abaixo de sua sucessora, Pantanal (que ultrapassava os 30 pontos com facilidade), e até de outras que foram reprisadas durante a pandemia. A julgar por isso, as inovações ainda não caíram no gosto do público.