Geovani Martins: ‘Proibição das drogas justifica chacinas no Brasil’
Expoente da nova literatura brasileira fala de questões sociais na FLIP
Geovani Martins, 31 anos, um dos nomes que surgiram nos últimos anos na literatura brasileira com alcance internacional, foi bastante aguardado na 20ª edição da FLIP, em Paraty. Não só pelo sucesso de seus recentes livros – ele acaba de lançar o romance Via Ápia, como pelo fato de que a francesa Annie Ernaux pediu para conhecê-lo em sua vinda ao evento. Nasceu em Bangu, na Zona Oeste do Rio, estudou até a oitava série do ensino fundamental, trabalhando como homem-placa e atendente de lanchonete. Morou na favela da Rocinha e no Vidigal. Durante sua mesa de debates na sexta-feira, 25, Geovani falou de sua relação com a literatura e como as questões sociais atravessam seus trabalhos. E revelou que pretende fazer um livro de não-ficção voltado para a discussão sobre a legalização das drogas. Tema sempre latente na pauta política.
DE VOLTA. “Fico feliz de voltar a FLIP pela quarta vez e sendo a primeira que o evento homenageia uma mulher negra, Maria Firmina dos Reis”.
NOVO CONTEXTO. “Estou grato a todos os amigos que fiz até hoje. Escrever Via Ápia foi um grande aprendizado, escrevi numa circunstância bem diferente. Sol na cabeça escrevi pensando como pagar meu aluguel, eram coisas urgentes. Esse agora eu pude pensar e respirar com tempo e dinheiro, cadeira confortável para pensar na oportunidade de buscar novas referências. Estava com esse livro há dez anos na cabeça”.
SOBRE DROGAS. “Quero fazer um livro de não-ficção sobre o assunto. O Brasil constrói discursos descolados da realidade. A proibição das drogas é a justificativa das chacinas que ocorrem no Brasil. Duvido que estaríamos assim como sociedade se todo mundo pudesse usar um cogumelo. Droga é um portal de flexão e empatia. Criança gosta de açúcar, é a única droga que ela pode usar, olha a alegria que ela fica”.
CONTROLE DA MEMÓRIA. “Veja o que ocorreu na chacina no Jacarezinho (comunidade da zona norte do Rio). Polícias foram lá e mataram aquela gente pela segunda vez ao destruírem o memorial das vítimas que foi construído em menos de um mês. Fazer um livro é forte, a meu ver, porque os policiais não podem destruí-lo tão facilmente”.