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Exclusivo: Ex-diretor acusa Faustão de assédio moral

Em entrevista a VEJA, Alberto Luchetti Neto revela bastidores da época do ‘Domingão do Faustão’

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 Maio 2024, 23h54 - Publicado em 14 jun 2023, 07h01

Alberto Luchetti Neto, 70 anos, foi diretor-geral do Domingão do Faustão, na TV Globo, de 1998 a 2002, período em que se deu acirrada competição por audiência com Gugu Liberato, no SBT. Sem meias-palavras, Luchetti, que atualmente tem uma empresa de televisão por internet, expõe com exclusividade à coluna sua opinião sobre a fracassada ida de Fausto Silva à Band e relata bastidores acalorados dos domingos na ex-emissora carioca.

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Os bastidores da tensa reunião entre os herdeiros de Gugu

O senhor chegou a ser cogitado para dirigir o Faustão na Band? Como avalia a saída dele? Não, eu não sou maluco de ter ido. Isso é uma irresponsabilidade dele e da cúpula da Band, de colocar um programa diário, no horário nobre, achando que o Faustão tinha o dinheiro da Globo. Ele achava que o dinheiro era dele, mas não. Tanto é que entrou um oportunista no lugar do Fausto, o Luciano Huck, e o dinheiro está lá do mesmo jeito. Quem tem a audiência e o dinheiro é a emissora. Ele não levou nem um, nem outro.

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Qual foi a principal motivação para o Faustão sair do ar? O problema não foi só a vaidade, que ele tem de forma latente. O problema foi o fígado dele. Ele saiu da Globo pela porta dos fundos, foi demitido por um diretorzinho. Saiu com o fígado virado, querendo dar um troco na Globo. Na Globo, ele fazia 52 programas semanais por ano, com todo o elenco, dinheiro e audiência da emissora. Aí na Band, sem estrutura, precisou fazer 60 em três meses. A probabilidade de dar errado era de 100%. Por isso, digo que é irresponsabilidade dele e da cúpula da Band. Ele não vai ter a vida financeira afetada (com a demissão), mas estamos falando em 300 demissões! Quem deveria ser demitido são os diretores que concordaram em pagá-lo. Não havia estrutura para isso ali.

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E a imposição dele de incluir o filho, João Guilherme, no projeto? É o que ele fazia com todo mundo. Pega o histórico do programa dele na Globo. Ele fez isso com o cameraman, o Renato Laranjeira, que foi namorado da irmã dele.

O senhor trabalhou com ele no auge da concorrência com o Gugu, no SBT. Como era o clima nos bastidores? Em 1998, a Globo me chamou para dirigir o programa do Fausto, que estava perdendo para o Gugu. Foi o início da “guerra dos domingos”. Fiquei até 2002 e depois fui colocar o Serginho Groisman (Altas Horas) no ar, que já estava havia um ano na geladeira. Todo mundo fala que era arrogante, né? E acho que ainda vai acontecer (processo judicial) com muita gente que se sente prejudicada por ter acompanhado ele (na Band). Havia muito assédio moral.

Como eram os assédios? O assédio moral dele era o seguinte: tinha o costume de esculhambar a produção no ar e de pedir desculpa em particular. Criticava o trabalho em rede nacional. O que ele fazia com o Caçulinha era de chorar! Ele o humilhava, dizia que ele não sabia tocar (teclado), que era ultrapassado. Falou tanto que a Globo tirou ele. Por exemplo, uma moça, Angela Sander, de tão perseguida por ele, tomou remédio e cometeu suicídio. Foi uma desgraça que a Globo tentou esconder por todos os meios. Eu já estava fora. Ela estava tão desesperada, ele humilhou tanto ela, que um dia ela tomou remédio, foi dormir e não acordou mais.

Mas ele tem fama de ser generoso nos presentes, não? Fausto tem um grave defeito. Você está numa situação difícil, aí ele procura te ajudar… Só que depois pede para a assessoria divulgar que ele está te ajudando. Ele cansou de fazer isso com a Dercy Gonçalves.

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Ele chegou a dificultar a contratação de alguém por se sentir ameaçado? A maior injustiça que fez na minha época foi com o (Ciro) Bottini. O pessoal da Globo botou o Bottini para fazer anúncios. Ele detonou o Bottini para todo o departamento comercial, até ele parar de fazer comerciais. Fausto queria fazer tudo que é merchandising. Aí agora pensou: “Vou sair da Globo e levar todos os anunciantes comigo”.

Na época das grandes contratações da emissora, ele se incomodou com a ida de Luciano Huck, Serginho Grosiman e os demais? Não, mas essas contratações têm particularidade interessante. Certo dia, uma pessoa entrou na sala da direção e informou que a Record estava indo para o primeiro lugar. Na Record, passava Ana Maria Braga fazendo bolo de chocolate e conversando com papagaio. O que a Marluce Dias (então diretora-geral) fez? Uma jogada antiga dos tempos do Boni na Globo: quando alguém dava audiência em outro canal, contratavam-na. Numa porrada só, contratou três jovens: Serginho Groisman, do SBT; Luciano Huck, da Band; e Cazé, da MTV. A Globo, sem concorrente, voltou ao primeiro lugar. E também a Ana Maria. Luciano estreou no sábado e a VEJA deu de capa que ele tinha ressuscitado um dinossauro chamado Raul Gil, que foi para o primeiro lugar no sábado, porque o menino não tinha o menor carisma. Cazé estreou num domingo e foi mandado embora no outro. E Serginho ficou um ano sem entrar no ar.

Como foi seu rompimento com o Faustão? Foi quando coloquei o Serginho no ar, o que é costumeiro na Globo (esse rodízio na direção dos programas). Depois, a mulher dele, Luciana Cardoso, trabalhou três anos comigo na AllTV (na internet). Ele pediu para eu prepará-la profissionalmente como apresentadora. Começou na internet e depois foi trabalhar com outras pessoas. Eu falava com ele, mas, podendo evitar, preferia.

Então não houve uma briga? Não. Ele dava dinheiro e dava presentes para todo mundo. Um dia me deu um relógio de aniversário, de cerca de 100 mil dólares, dizendo que aquilo era o símbolo da nossa irmandade, porque ele só tinha irmãs e eu era o único irmão na vida dele. Meses depois, devolvi o relógio dizendo que não queria mais ser irmão dele.

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E a reação dele? Foi a pior possível. O que me fez devolver foi o jeito dele. Para continuar com o relógio, eu tinha que dizer que era irmão, então preferi dar o relógio, o símbolo da irmandade não existia mais. Um dia, já quando a Luciana trabalhava comigo, ele me convidou para almoçar. E perguntou o que achava das mudanças que estava fazendo no programa. Falei: “Fausto, eu ganhava muito dinheiro para fazer teu programa. Mas, para ver, teria que ganhar muito mais”. Ficou um clima ruim, acabou o almoço.

Como era o clima com relação ao Gugu à época? Tenho uma marca significativa. Saí do programa em maio de 2000. De maio de 2000 a maio de 2001, ele perdeu 50 dos 52 programas ao vivo para o Gugu. De maio de 2001 a maio de 2002, perdeu outros 50. Os grandes anunciantes migraram para o Gugu, o maior deles foi a Nestlé. Isso acabou com ele. Aí o Gugu fez aquela merda com o PCC (uma falsa entrevista com integrantes da facção criminosa). Se não fosse isso, o Fausto tinha encerrado a carreira na Globo em 2002.

Muitos defendem que o Faustão ficou ultrapassado não só no formato, mas também no discurso. Acredito que pense parecido, pelo que está relatando… Já era um cara ultrapassado na Globo. Aquele programa dele, se você lembrar bem, tinha 30 anos e era tudo igual. Para o auditório, contratava quatro ou cinco fileiras de mulher com perna de fora, o resto da gente era de periferia. É um cara de 74 anos que não se modernizou. Ele bota tênis, fala “ô louco, meu” e acha que é moderno. Ultimamente, ele estava fazendo um “Baile da Saudade” na Band. Trazia cantores como Chrystian e Ralf, que estão fora da mídia há anos, não tinha mais casting como na Globo.

Por ter convivido com ele, como imagina que esteja agora? Muito abalado. O cara que tinha um nome a zelar, um nome no mercado. Era melhor ter parado no auge do que ter parado nessa desgraça. A verdade é que ele, como grande repórter de campo que foi, não fez o que o Pelé fez, não soube parar. Não fez o que o Michael Jordan fez. E terminou por baixo, saiu pela porta dos fundos da Globo e saiu de forma lamentável da Band. Você tem ideia do que é parar de fazer um programa por falta de audiência? É a pior coisa para um apresentador.

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Alguma outra emissora hoje suportaria o peso da contratação do Faustão? Vou antecipar a você o que vai acontecer: Fausto vai viver na ponte aérea São Paulo-Milão. Não vai fazer mais nada na vida. Ninguém vai querer ele, e ele não tem mais pique para fazer nada além do que já fez. Pode escrever aí.

 

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