Da cadeirada ao colete laranja, a crônica política de 2024
Retrospectiva GENTE: Datena, Pablo Marçal, Eduardo Leite, Elon Musk e Alexandre de Moraes, os personagens que agitaram cenário político no ano

Marcada pelas eleições municipais, agressão física em debate na TV e ironias nos discursos públicos, a retrospectiva política do ano, segundo a coluna GENTE, passa por situações curiosas e marcantes. A começar pelo carnaval, local que reúne políticos, foliões, bicheiros e famosos. Confira a seguir quem se destacou sob ataques, sob fúrias e sob chuvas.
SOB CONFETE E SERPENTINA. De praxe, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) marcaram presença na folia carioca – dentre eles, o então ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Bem antes do escândalo que o tiraria do cargo, quando foi acusado de importunação sexual pela ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. Silvio desfilou pela Portela na Marquês de Sapucaí. A mesma avenida viu a União de Maricá realizar um feito e tanto – alçada ao grupo de Acesso, conquistou logo de cara o quarto lugar sob a batuta de Washington Quaquá, deputado federal petista.
No nordeste, João Campos (PSB) quis mostrar que seu carnaval, enquanto prefeito de Recife (PE) era o “melhor do país”. Só esqueceu de combinar com o ufanista carioca Eduardo Paes (PSD), que tratou de convidá-lo para conhecer a Sapucaí. Ambos em campanha, terminam o ano devidamente reeleitos em primeiro turno. Cada um no seu carnaval.
SOB BOMBAS. Fora das fronteiras brasileiras, o mundo foi sacudido por conflitos nem tão novos assim. A guerra em Gaza, começada em 7 de outubro de 2023, teve uma grande escalada, destruindo praticamente toda a cidade e seus habitantes, com mais de 43 mil mortos. Com comoção internacional às vítimas do confronto, Lula condenou a invasão, mas exagerou no tom. Durante discurso na África do Sul, comparou a operação militar ao Holocausto. O comentário não foi bem visto pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que chegou a ironizar o Brasil no X. No post, o premiê republicou um post com a bandeira brasileira escrita: “O que vem à sua mente quando pensa no Brasil?”. Curto e grosso, Netanyahu respondeu: “Antes ou depois de Lula ter negado o Holocausto?”. A fala também reverberou no contexto nacional – Luciano Huck lamentou: “Sou judeu. Defendo o Estado de Israel, como também a criação de um Estado Palestino. Sou um democrata, sempre estive e estarei posicionado contra o extremismo. Mas lamento o posicionamento do presidente Lula”.
SOB CHUVAS. Em maio, o país presenciou um dos maiores desastres ambientais, as enchentes no Rio Grande do Sul, que mataram mais de 170 pessoas, expulsando 600 mil de suas casas. Um volume grande de doações foi destinado ao estado gaúcho. Nesse contexto, o governador Eduardo Leite (PSDB) alegou que as doações estavam prejudicando o comércio local. A fala foi bastante criticada e obrigou Leite a rever seu posicionamento. “Em nenhum momento, tive a menor intenção de inibir ou desprezar as inúmeras doações que o Brasil e o mundo estão fazendo para ajudar nosso Rio Grande do Sul numa grande reconstrução”.
Houve ainda quem criticasse a preocupação de Leite em trocar a foto do seu perfil nas redes sociais, agora por uma em que vestia um colete laranja sugestivo – mostrando trabalho diante dos alagamentos, tudo para “ficar bem na foto”, o que deu errado. Outro momento que marcou o desastre foi o resgate do cavalo caramelo ilhado em cima de um telhado em meio às enchentes. A cena foi tão impactante, que mobilizou até a primeira-dama, Janja, que celebrou o salvamento nas redes sociais.
SOB MAQUIAGEM. Jair Bolsonaro decidiu apostar em outro ramo: o empreendedorismo. Depois da família lançar o Bolsonaro Store, loja em que vende bonés, quadros e cadernos do ex-presidente, em 2024, Michelle Bolsonaro e seu maquiador Agustin Fernandez, lançaram uma linha de perfumes que chegam a custar até 300 reais. Eduardo Bolsonaro seguiu a mesma linha de negócios. Já com um polêmico histórico de empreender, o deputado começou a fazer propaganda de vinhos que levam o nome do núcleo familiar. Ainda nesta linha, criou, junto com os irmãos Carlos Bolsonaro e Flávio Bolsonaro, um curso ensinando como vencer a esquerda e “como ter sucesso nas eleições de 2024”.
Uma derrota para o núcleo dos Bolsonaros: Michelle perdeu o processo contra Erika Hilton (PSOL). Em agosto, a ex-primeira-dama processou a deputada federal por calúnia e difamação após ela criticar a decisão do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), de nomear Michelle como cidadã paulista. Em publicação no X, Erika escreveu: “Não dá nem para homenagear Michelle Bolsonaro por nunca ter sumido com o cachorro de outra família porque, literalmente, até isso ela fez”, fazendo alusão ao episódio em que ela adotou um cachorro resgatado, mas precisou devolvê-lo porque ele já tinha dono. A verdadeira vitória para a família foi do 04, Renan Bolsonaro, que conseguiu se eleger, mas precisou da engatada de Nikolas Ferreira (PL), que entrou de cabeça na campanha do novato. Apadrinhado por Bolsonaro, Nikolas angariou um grande público de radicais ávidos por participar, veja só, da Bienal de Livros em São Paulo. O deputado lançou a obra Criando Filhos Para o Amanhã.
SOB HOLOFOTES. A capital paulista presenciou a ascensão de um figurão exótico. Pablo Marçal, famoso na internet por seu conteúdo de coach, esquentou os debates e fez políticos tradicionais questionarem suas atitudes rumo às urnas. O candidato, que ficou em terceiro lugar pela prefeitura, apostou em bordões nas sabatinas. Em um debate promovido pela TV Cultura, Marçal testou tanto os limites de José Luiz Datena (PSDB) que levou uma cadeirada do apresentador. O lamentável episódio teve tanta repercussão, que ambos ganharam centenas de seguidores de um dia para o outro. O cenário ficou tão preocupante, que a TV Globo precisou criar rígidas regras para impedir que troca de ofensas ocorressem ao vivo. A cadeirada, no entanto, não se traduziu em votos. Ambos ficaram de fora do segundo turno que, entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), o primeiro levou a melhor.
SOB MEMES. As eleições no Rio, que já foram mais turbulentas em outros momentos, dessa vez nem chegou perto dos tumultos paulistas. Ainda assim conseguiu fabricar alguns memes. Durante debate da Band, Tarcísio Motta (PSOL) apelidou Rodrigo Amorim (União Brasil) de “Padre Kelmon de Alexandre Ramagem” (PL). O nome veio devido ao alinhamento de ambos candidatos com Bolsonaro – alusão ao cenário político de 2022, quando Kelmon se posicionou ao lado do ex-presidente. Ainda mantendo a postura bolsonarista, Ramagem tentou demonizar o educador Paulo Freire, tal qual faz a extrema-direita, além de chamar a gestão de seu aliado Claudio Castro (PL) de “medíocre” e criticar o prefeito carioca Eduardo Paes (PSD) por seu mandato “nota zero”.
SOB LIKES. Para além das eleições, a maior derrota foi de Elon Musk no judiciário brasileiro. O começo deste imbróglio foi quando o empresário decidiu fazer uma série de publicações em sua rede social, o X, atacando o ministro Alexandre de Moraes. Entre comentários chamando o ministro de “ditador brutal”, Musk se negava a cumprir a decisão judicial de bloquear os perfis que se vangloriavam dos ataques de 8 de janeiro de 2023. Depois de negar as medidas do Supremo Tribunal Federal e fechar o escritório da empresa no Brasil, Moraes deu 24 horas para que o CEO americano seguisse a lei. Sem levar a sério, o bilionário continuou a zombar do juiz, comparando-o aos vilões de Star Wars e Harry Potter. A rebeldia não levou a nada, a rede social foi derrubada e Musk perdeu a queda de braço. A repercussão de sua derrota foi tão grande, que reverberou na imprensa americana. Um grande fiasco. Trinta e oito dias depois, o X voltou ao ar.
AÇÕES ILÍCITAS. Um ataque com bombas provocado por Francisco Wanderley Luiz na praça dos Três Poderes sacudiu Brasília em novembro. O alvo era o Supremo Tribunal Federal (STF). Ele acabou morto pelo artefato que carregava. Vieram a público ações ilícitas envolvendo militares com formação em Forças Especiais do Exército, incluindo a participação de um general de brigada da reserva, que tinham por finalidade assassinar o ministro do STF Alexandre de Moraes, o presidente Lula e seu vice, Geraldo Alckmin. Segundo a investigação, o objetivo era impedir um grupo de governo legitimamente eleito e restringir o livre exercício do Poder Judiciário.
BEM NA FOTO. Em meio a isso, o Rio sediou nos dias 18 e 19 de novembro o encontro do G20, tendo presença do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden; da primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni; do presidente da Argentina, Javier Milei; e do primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, entre outros. A cidade respirou ares de segurança diante da agitação dos chefes de Estado das nações mais ricas do mundo. Em pauta, discussões propostas por Lula para combater a fome e a pobreza no mundo. Um ganho para todos.
No mais, a equipe da coluna GENTE agradece a todos os leitores pela companhia diária e deseja um ano-novo repleto de boas notícias para todos, com ações que façam valer a pena cada segundo desse ciclo que está por iniciar. Nos vemos por aqui, no programa semanal, no podcast e nas redes sociais de VEJA.