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Como um artista trans campeão de break dance foi parar no Cirque du Soleil

O mineiro It-sa Gonçalves fala da trajetória até o picadeiro mais famoso do mundo

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 19 dez 2022, 12h45 - Publicado em 18 dez 2022, 11h00

It’sa Gonçalves, 24 anos, é um atleta trans, que se identifica como não-binário. Mineiro, o artista é bicampeão de break dance, misto de arte esporte que pratica desde os 11 anos e, inclusive, já integrou a Seleção Brasileira da modalidade. Aos 19 anos, entrou para o corpo de bailarinos do Cirque du Soleil. Em cartaz no Rio com a trupe no espetáculo Bazzar, It’sa fala à coluna dos desafios no picadeiro.

Como um artista trans bicampeão de break dance foi parar no Cirque? Danço desde os 11 anos, sempre fui muito agitado e consegui me profissionalizar aos 17 em uma companhia de dança em Belo Horizonte. Fazia parte de projetos sociais, busquei aprimorar a minha técnica e melhorar na dança. Mas no Brasil as coisas são difíceis, já estava desistindo da carreira. Dava aula numa escola integrada e uma professora postou um link falando das audições do Cirque du Soleil. Vi a quantidade de requisitos, e mesmo não tendo todos, me inscrevi. E recebi o email deles chamando para audições em São Paulo, em agosto de 2017. Esperei cinco meses para ser chamada. Comecei a trabalhar no Cirque em abril de 2018, depois do processo de imigração, passaporte e visto.

Como o Break Dance se insere no espetáculo do Cirque? Nesse espetáculo, o Bazzar, tem um corpo de seis bailarinos, e cada um tem uma modalidade de dança. Sou o que representa o break, o único que dança break no espetáculo. Às vezes treino um outro estilo, os outros também praticam, porque todo mundo quando dança tem os solos.

Desde quando se interessa por break dance? Comecei a dançar break aos 11 anos, quando meu primo se mudou para o lado da minha casa. Ele já dançava e aí eu o via treinar e da minha casa para a dele, só um muro nos dividia… Eu pulava o muro, era uma criança bem agitada, subia em laje, jogava bola na rua e quando o vi dançando, quis aprender também.

Muita gente não sabe que break dance também é uma competição. Como são as dinâmicas de competição? As batalhas de breaking tem os seguintes fundamentos: Toprock, Drop, Footwork, Freeze e Power Move. Toprock é dançando em cima, em pé; Drop é como se passa do alto para o chão; Footwork é um trabalho de pés, o nome já fala; Freeze é parar, congelar, o movimento de interrupção abrupta; e Power Move são as bases de spin moves, air moves, giros de cabeça, de costas, com as mãos. Aí vai criando o que a gente chama de session, uma pequena coreografia. Isso exige treino. E aí o DJ coloca uma música surpresa para o dançarino.

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O que é preciso para fazer uma performance de break dance? Basicamente, treinar os fundamentos e saber a filosofia do hip hop. Estudar a história, quando nasceu o hip hop, por que nasceu, por que foi criado… Precisa saber dessa filosofia para incorporar o espírito da coisa. E além disso, cuidar bem do corpo, dormir bem, se hidratar, se alimentar. Não tem coisa mais bonita do que ver uma pessoa tentando algo novo. E no break se vê isso, na arte em geral… Você pode chegar onde quiser, depende só de você.

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