Como os reis de baterias quebram tradição no Carnaval do Rio
John Avelino, Bruno Pinheiro, Jorge Amarelloh e Juarez Souza falam de sua experiência na Sapucaí

Há uma espaço em específico nas escolas de samba que atrai olhares, polêmicas e curiosidade: o das rainhas de bateria. No entanto, de um tempo para cá, as agremiações ousam em quebrar alguns padrões ao coroar homens ao invés de mulheres à frente dos ritmistas. O grande início desse movimento foi em 1994, quando Zé Reinaldo desfilou como rei de bateria no Grupo Especial com a Grande Rio, com um figurino de plumas amarelo e vermelho.
A ideia gerou um estranhamento inicial entre as passistas e foi abandonada por alguns anos. Agora, os reis de bateria estão aos poucos voltando a ganhar espaço. Nascido em Goiana, John Avelino, 34 anos, é amante do Carnaval desde pequeno, mas só teve oportunidade de conhecer a Avenida mais velho. O cabeleireiro começou sua carreira carnavalesca em 2015, quando um vídeo seu sambando na Sapucaí viralizou. Em 2015, quando David Brazil foi coroado rei ao lado de Susana Vieira na Grande Rio, John começou a ser chamado para pequenas apresentações. Quatro anos depois, foi chamado para ser muso da São Clemente. No carnaval seguinte, surgiu o convite para rei de bateria na União de Jacarepaguá, no grupo de Acesso. “Já cheguei na escola com status de muso. Há anos não tinha rei, foi maravilhosa a minha estreia. Sempre levantei a bandeira de que nós, homens homossexuais ou não, não devemos ser só mão de obra para o Carnaval”, defende ele à coluna GENTE.
Embora seja uma iniciativa que a cada dia ganha uma maior proporção, os reis de baterias estão sempre na mira de críticas. Bruno Pinheiro, 39, à frente da bateria da Tradição desde o último Carnaval, compartilha que o preconceito já é, de certa forma, esperado. “O novo incomoda. A figura feminina na frente de uma bateria é o que habita no senso comum, em especial na erotização do corpo da mulher e na sua objetificação. Um homem ocupando esse espaço, e ainda por cima sozinho, incomoda”, afirma.
O baiano Jorge Amarelloh, 30, também faz questão de impor sua presença – e leva seu filho Heitor, 3, para os desfiles. Rei da Em Cima da Hora, Jorge também é diretor artístico da Paraíso da Tuiuti, no grupo Especial. Todo o amor pelo Carnaval foi construído ainda pequeno. “Quando criança, tive incentivo de uma vizinha que era baiana de algumas escolas de samba, que me levava para acompanhar e desfilar com ela. Faço a mesma coisa com meu filho, levando-o para o samba”, conta ele, acrescentando que é o único rei que desfila há quatro anos consecutivos na Avenida.
Juarez Souza, 39, desfilou como rei pela primeira vez na Acadêmicos do Sossego em 2022 e, no ano seguinte, já estava na Acadêmicos de Niterói. “Ser convidado para ser rei foi uma longa estrada. No samba há paradoxos. Há aqueles que são contra, vão na internet e dizem que isso não pode. Mas também tem aquelas pessoas que defendem”, completa ele, que precisou abdicar do reinado devido à carreira médica. “Mas carrego o samba no coração”.