Como grafites do subúrbio carioca foram parar em vitrine de lojas do país
Guilherme Kid fala de seu trabalho, um olhar apurado sobre as periferias, que vem conquistando espaços inusitados
Guilherme Kid, 30 anos, nascido e criado no bairro de Realengo, na zona oeste do Rio, conheceu o grafite em 2010 e desde então usa a rua como sua principal superfície. Nos muros, ele retrata o cotidiano de bairros periféricos, o comportamento, a moda e os costumes para além de Ipanema e Leblon. Os personagens urbanos são variados: o camelô no trem, o vendedor de açaí, as crianças soltando pipa, o botequim. Há alguns meses sua arte ganhou o palco do programa “Encontro”, na TV Globo. No carnaval, um painel seu foi exibido numa alegoria da campeã Grande Rio. E agora, Kid vê seus traços invadirem outro espaço: o da moda. Suas pinturas estão numa coleção que começou a ser vendida na rede Leader pelo país. A seguir, o bate-papo do artista com a VEJA:
Como surgiu a ideia de levar suas artes para peças de poupas?
Na verdade, o Pablo Ramoz, um dos curadores do projeto LeaderLab, veio com a proposta até mim, através da indicação da Lúcia Alves de Carvalho, que trabalha no setor de criação da marca. Acharam que eu tinha a ver com a proposta.
Que adaptação teve que fazer nos desenhos?
Foram poucas. O que mais tive que fazer junto a equipe foi pensar em quais artes cairiam melhor nas peças. Moda é algo que eu sempre gostei muito! Sempre me interessei. Inclusive ela está muito presente nos meus trabalhos. A moda periférica está presente nas minhas pinturas.
Qual é a sensação de ver suas artes compondo o visual das pessoas?
É maravilhoso! Além da realização pessoal, também tem o fato de saber que as peças são acessíveis a muitas pessoas. Fico feliz em ver o povo podendo consumir um trabalho meu. Tenho diversos planos com a minha carreira, e um deles é esse, arrumar um jeito de ver as pessoas terem acesso a algo meu.
Suas artes mostram o cotidiano do subúrbio carioca. Conte sobre essa inspiração?
Minha inspiração é minha infância, meu dia a dia, o transporte público, os lugares que passo. É o Rio de Janeiro que não está nos cartões postais, o Rio da zona norte, zona oeste, Baixada e das demais regiões de uma realidade periférica. Eu falo sobre geografia social, sobre vida, só que vista pelo outro lado, o outro lado do túnel.