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As polêmicas à direita do escritor Mario Vargas Llosa

Aos 87 anos, peruano coleciona declarações que extrapolam sua literatura, que se mantém elogiada 

Por Valmir Moratelli Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2024, 20h59 - Publicado em 23 set 2023, 11h00

Prêmio Nobel de Literatura em 2010, Mario Vargas Llosa é, indiscutivelmente, um dos maiores escritores latinos ainda vivos. O peruano tem contribuição crucial para o boom da literatura latino-americana a partir dos anos 1960 no mundo. Originalmente formado por ideias de esquerda, Vargas Llosa hoje é mais lembrado por suas visões políticas cada vez mais de extrema-direita. O que assusta seguidores e leitores.

No auge do movimento #MeToo, declarou que “hoje, o feminismo é o maior inimigo da literatura”. Recentemente elogiou os crescentes movimentos autoritários de extrema direita na América Latina e em parte da Europa. Em maio, em Guadalajara, falando na apresentação de um prêmio literário que leva seu nome, o escritor elogiou o resultado da recente turbulência política no Peru. Dina Boluarte, a presidente nomeada para suceder a Pedro Castillo após impeachment e tentativa de golpe, foi elogiada por Llosa mais de uma vez. No mesmo discurso, ele condenou a “cultura do cancelamento” da esquerda.

Como cabo eleitoral, entretanto, não tem se saído bem. Durante as eleições presidenciais do Brasil, apoiou publicamente Jair Bolsonaro (PL). Em 2021, expressou apoio ao candidato presidencial chileno José Antonio Kast, admirador de Pinochet e quem se opõe ao casamento entre pessoas do mesmo sexo e ao direito ao aborto. Como se sabe, aqui, Lula (PT) levou a melhor; no Chile, Gabriel Boric venceu. Em seu país, endossou a candidatura presidencial de Keiko Fujimori, filha e herdeira política do ex-presidente Alberto Fujimori, seu inimigo político desde 1990, contra Castillo. Mais uma vez se saiu mal. Castillo venceu – e agora está na mesma prisão que Fujimori.

O que quer Vargas Llosa ao se posicionar, na maioria das vezes, contra a democracia ou no confronto com candidatos que defendam ideais contrários à onda reacionária que tumultua o cenário democrático? Recentemente, a The New Yorker destinou um bom espaço para discutir esta guinada cada vez mais à direita de um escritor ranzinza, que não teme ser cancelado, e que se mantém, ainda assim, no centro de toda discussão literária. “Vargas Llosa viveu fazendo o contrário do que se esperava dele e, por isso, em tempos em que os escritores não importam mais, estamos sempre falando dele”, diz o ensaio. Aos 87 anos, o autor de A guerra do fim do mundo, A casa verde, Travessuras da menina má, Tempos ásperos, entre outros clássicos, continua firme para incomodar.

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